16º Domingo do Tempo Comum, Ano C - Acolhimento e hospitalidade
A reflexão de Frei Pedro Júnior para o 16º Domingo do Tempo Comum destaca o acolhimento e a hospitalidade como formas concretas de servir a Deus. Abraão acolhe os estrangeiros com gratuidade, revelando a presença divina. No Evangelho, Maria rompe padrões ao escutar Jesus, assumindo o papel de discípula, e Marta é chamada a fazer o mesmo. Jesus não contrapõe ação e contemplação, mas propõe a integração das duas como missão dos discípulos. Mesmo sem sermos acolhidos, somos chamados a permanecer aos pés do Senhor.
Reflexão Dominical
20.07.2025 07:53:11 | 4 minutos de leitura

As leituras deste Domingo nos permite pensar em dois modos de atuação que se configuram como presença real de Deus em nossa casa: acolhimento e hospitalidade. Os viajantes ou missionários estavam expostos aos mais variados problemas, fome, sede, falta de teto, insegurança, etc. Acolher e hospedar estes sempre foram visto como uma maneira de servir a Deus. No hóspede servido, Deus é servido. Ser indiferente aos missionários e transeuntes é fechar-se a Deus.
A primeira leitura nos traz como personagens três estrangeiros, Abraão e Sara. No momento em que Abraão viu os estrangeiros não perguntou suas identidades; simplesmente corre para acolhê-los e servi-los, tudo isso na mais pura gratuidade. A atitude gratuita do casal idoso e estéreo fez nascer um filho no qual já haviam perdido as esperanças. Não devemos pensar que devemos ser acolhedores e hospedeiros porque Deus vai nos recompensar, temos que ser porque é assim também que Deus se revela. Como recordávamos no Domingo passado: Amar a Deus e ao próximo nos fará herdar o Reino de Deus. O segredo está na gratuidade.
O contexto do evangelho de São Lucas também é de acolhida e hospedagem. Falando deste Evangelho, lembremos que estamos na segunda parte onde São Lucas coloca Jesus a caminho de Jerusalém. Como todo caminheiro Jesus precisou parar e revigorar as forças. A casa de Maria e Marta que são suas amigas foi o lugar ideal. Marta preparava a casa e Maria escutava Jesus. Por muito tempo esse texto foi usado simplesmente para fundamentar a distinção entre duas formas de vida muito significativa para o cristianismo: a vida ativa e a contemplativa. Precisamos ir além dessa simplória interpretação.
Perceba que diferente da primeira leitura em que Abraão vai acolher a visita, natural para este tempo, aqui quem acolhe Jesus é uma mulher. Ainda neste contexto da sociedade de Jesus a mulher não tinha esta autonomia para receber um homem em sua casa. Esse era o papel do homem enquanto a mulher permanecia na cozinha preparando o alimento. Maria revoluciona e vai acolher Jesus. Da mesma forma Jesus foi muito revolucionário porque não era conveniente para um homem aceitar a acolhida de mulheres. Ambos fizeram o que era proibido. Na sequencia Maria senta aos pés de Jesus e escutava sua palavra. Esse era o método que todo mestre fazia com seus discípulos e agora a discípula era uma mulher. Algo incomum para a época, uma mulher ser discípula.
Marta continuou fazendo aquilo que era normal para sua época, continuar nos afazeres de casa e se preocupar em oferecer o melhor, por isso ela pede a Jesus a ajuda de Maria, pois ela estava só. Porém, para Jesus, tirar Maria de seus pés era lhe tirar um direito conquistado, de ser discípula e isso, Jesus não quer. A dupla chamada do nome de “Marta, Marta” não significa repreensão e sim um chamado vocacional, como muitas vezes escutamos nos relatos vocacionais dos personagens bíblicos. Em vez de repreender, Jesus chama a Marta para também ser discípula, como Maria que já estava seus pés. O lugar da mulher também é o lugar do discipulado.
Dessa forma, não existe contraposição dos dois modos de vida, o que existe é justaposição de dois modos de vida inteiramente evangélico: acolher e hospedar. Eis aqui a dupla missão de todo discípulo e discípula de Jesus. Algumas vezes o discípulo não receberá a justa acolhida, até porque a palavra que o discípulo traz também incomoda. Paulo incomodou e por isso, se encontra preso, mas sem deixar de ensinar. Seu sofrimento se completa no sofrimento de Cristo. Portanto, que nós mesmos sem sermos devidamente acolhidos jamais deixemos de estar aos pés do Senhor.
Fonte: Frei Pedro Júnior Freitas, OFM