Mais sobre o Centenário da presença Franciscana no bairro de Jaguaribe em João Pessoa

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06.12.2023 11:34:42 | 5 minutos de leitura

Mais sobre o Centenário da presença Franciscana no bairro de Jaguaribe em João Pessoa

A atuação missionária dos frades menores em João Pessoa remonta ao período do Brasil Colônia, ainda quando esse território se chamava Nossa Senhora das Neves. O ano de 1585 marca a fundação da Custódia de Santo Antônio do Brasil, tendo sua sede no Convento de São Francisco de Olinda, o primeiro Convento franciscano em terras brasileiras. 

No ano de 1589 Frei Melchior de Santa Catarina, então Custódio do Brasil, visita a cidade após os apelos da Câmara e do povo em geral, a fim de examinar o local para a ereção do Convento. Neste mesmo ano inicia-se a construção do primitivo Convento de Santo Antônio. Tamanho era o desejo dos moradores para verem a dita construção religiosa e, por conseguinte, a presença dos frades, que não hesitaram em contribuir financeiramente em prol da edificação. A catequização dos frades menores aos povos originários era o eminente desejo dos colonizadores, pois por repetidas vezes aconteceram investidas dos nativos aos colonos. De tal modo, a presença dos frades menores garantiu uma ação pacificadora e a continuação dos costumes católicos por meio dos Sacramentos dispensados. No livro “Diálogo das Grandezas do Brasil”, o autor descreve o Convento de Santo Antônio como sendo o suntuoso e melhor convento da Ordem em todo o Brasil. O Convento da Paraíba foi residência de frades que ilustram a história da Ordem Franciscana e do Brasil, dentre esses, Frei Francisco dos Santos, que foi o arquiteto e Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, Guardião e Cronista da Província.

Diversos fatores contribuíram para a diminuição das vocações franciscanas, um deles foi as proibições por parte do Império, que determinaram a não permissão do recebimento de noviços, ocasionando quase que por total a extinção da presença franciscana no Brasil. Neste processo de decadência, o Convento da Paraíba ficou sem a presença dos frades e, por esse motivo, foi cedido ao Estado para servir de Escola de Cadetes. No ano de 1886, o então Bispo da Paraíba, Dom Adaucto Aurélio de Miranda, consegue, por meio da Cúria Geral dos Frades Menores e da Santa Sé, instalar no referido convento o Seminário Diocesano. 

No ano de 1893, teve início a restauração da vida franciscana no Brasil, através da Província da Santa Cruz da Saxônia, tendo como dádiva o reflorescimento da vida claustral e das atividades apostólicas nos vetustos conventos do Nordeste. Todavia, o Convento da Paraíba estava ocupado com o Seminário Diocesano. Em contrapartida o Bispo Diocesano oferece à Província de Sto. Antônio do Brasil, a Igreja de São Pedro Gonçalves, no bairro Varadouro, tendo sida aceita a oferta em 1910. No início do ano subsequente, o Definitório da Província nomeou Frei Martinho Jansweid como primeiro superior desta nova missão. A partir do ano de 1911, tem início a segunda fase das atividades apostólicas franciscanas em João Pessoa e em diversas cidades do interior. Dezenas de frades passam a residir na então Fraternidade de São Pedro Gonçalves. Variadas foram as atividades desenvolvidas pelos frades desde as celebrações, a Catequese e a instrução da doutrina católica.

Todavia, por estar situada em um bairro comercial, os frades não conseguiram a expansão de sua atividade apostólica. Dentre as diversas atribuições assumidas como apostolado externo a São Pedro Gonçalves está o Curato de Nossa Senhora do Rosário. A cidade da Paraíba passava por um empreendimento de requalificação e “embelezamento” e, por conseguinte, a Igreja Católica atravessava um grande processo de romanização, por meio da Carta Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII. Em consequência desses fatos a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi demolida e o Bispo Dom Adaucto incumbiu aos frades Menores de construir um templo dedicado ao mesmo título da Virgem Maria, no local denominado Jaguaribe. Grande parte dessa construção foi realizada por meio da indenização proveniente da demolição do templo, que se situava no Centro da cidade, pelo Governo.

Em 02 de dezembro de 1923, com a criação do Curato de Nossa Senhora do Rosário, os frades adquirem a possibilidade de uma nova atuação pastoral neste novo campo promissor, que até então era desprovido da presença da Igreja Católica, iniciando assim a terceira fase das atividades apostólicas franciscanas. O Bairro de Jaguaribe, antes da chegada dos frades, era quase por completo ocupado por uma população de trabalhadores pobres. Novamente a atuação dos frades não se deu apenas no âmbito espiritual, à exemplo da primeira capela construída como sede do Curato, que algum tempo depois foi transformada na Escola Paroquial São José, e diversas outras atuações diante da fé e do social, promovendo melhor qualidade de vida aos moradores. O Curato funcionou até o ano de 1929, quando foi elevado à condição de Paróquia. A partir de Jaguaribe os frades atenderam diversas localidades durante esses 100 anos de presença franciscana. 

A construção da atual Igreja e do Convento do Rosário só ocorre alguns anos após o início da cura de almas, pois toda a atenção dos frades estava voltada às atividades desenvolvidas em meios aos pobres e menores da sociedade, tendo sido benzida a pedra fundamental em 29 de julho de 1927.

Dos Frades que desenvolveram seu apostolado nos territórios do Curato que compreendia Jaguaribe e Cruz das Armas, e que foram operários da primeira hora, estão os frades Joaquim Benke e Martinho Jansweid. O primeiro Cura e pároco do Rosário, e principal encarregado pelas práticas pastorais, foi Frei Joaquim Benke. Tendo nascido em 7 de abril de 1876, em Duelmen, recebeu o nome no batismo de José. Seus pais foram Elisabet e Bernardo Benke. Iniciou sua vida vocacional em 1893, tendo neste mesmo ano chegado ao Brasil. Antes de chegar ao Rosário desenvolveu seu apostolado em Recife/PE, São Cristóvão/SE, e Penedo/AL. Foi seu desvelo apostólico que o fez responsável pela edificação do Convento do Rosário. Faleceu em sua cidade natal, aos 54 anos, em 17 de agosto de 1930. O santo missionário da Paraíba, Frei Martinho Jansweid, nasceu em 1876 na cidade alemã, de Colônia. Vestiu o burel franciscano em 13 de maio de 1894, tendo chegado ao Brasil ainda como noviço, em 1895. Devido à sua inteligência e à facilidade de adequação à língua, foi direcionado pela Província a lecionar, todavia não foi nesta nobre tarefa que colheu seus melhores frutos. Não obstante, seu frutuoso apostolado se deu nos Sertões Paraibanos, onde ardorosamente fundou em torno de dezessete Fraternidades Franciscanas Seculares e diversos Cemitérios. Suas laboriosas mãos legaram à Igreja da Paraíba a construção de cinco templos, que são referências de notável arquitetura sacra, e testemunham seu zelo incansável pelas coisas de Deus. Não apenas a Paraíba, mas também Pernambuco goza dos empreendimentos do abnegado missionário, pois a ele igualmente é atribuída a edificação da Igreja de Santo Antônio, no bairro de Água Fria/Arruda, em Recife. Os Sertões da Bahia ao Piauí receberam os preciosos benefícios da docilidade e firmeza de sua pregação. A morte o acolheu antes mesmo do término da sua maior obra edificada, a Igreja do Rosário, aos 28 de julho de 1930, ao mesmo dia em que chegava à cidade da Paraíba o corpo de João Pessoa.  

Muitos eram aqueles que acorriam a Frei Martinho, para acolher sua bênção e ouvir seus irrepreensíveis conselhos. De Frei Joaquim, perde-se a conta dos inúmeros testemunhos de seu constante sorriso, fruto de sua alegria quase infantil. Essas duas figuras impolutas, em uma conjuntura de pobreza e exclusão, certamente foram de suma relevância para devolver a dignidade daqueles que estavam à margem da sociedade de então, e suas marcas pastorais cultivaram nos recônditos do coração do povo a piedade cristã e a fé inabalável. 

Diante do exposto, os fatos aqui descritos comprovam que a presença franciscana nas terras paraibanas inflamou profundas mudanças religiosas e sociais. Apesar de não terem retornado ao Histórico Convento de Santo Antônio, houve continuidade dos trabalhos junto aos menos favorecidos, já iniciado pelos religiosos portugueses.

Fonte: Frei Vitor Batista, OFM (noviço)
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