PENTECOSTES, ANO B: É na ressurreição que se dá a descida do Espírito Santo nos apóstolos
Acompanhe a reflexão do domingo de Pentecostes preparada por Frei Pedro Júnior onde nos convida a entender a missão da Igreja com a descida do Espírito Santo: "Recebido o dom por excelência, o Espírito Santo, a comunidade cristã recebe a missão de reconciliar a humanidade consiga mesma e com Deus."
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19.05.2024 07:36:07 | 4 minutos de leitura

A solenidade de Pentecostes é a celebração de um acontecimento para a Igreja: Se a Igreja nasce do lado aberto de Cristo na cruz saindo água e sangue, sinal do batismo e da Eucaristia, Pentecostes é a sua apresentação ao mundo, expansão da Igreja e princípio de sua fecundidade. Podemos até nos perguntar, e a Páscoa não foi este acontecimento. Sim, mas vale lembrar que o Evangelho de João une Pascoa e Pentecostes em um mesmo mistério. A Páscoa abre um caminho de amor e Pentecoste é a certeza deste caminho de forma universal.
A liturgia, desde o Domingo da ressurreição nos fez percorrer um caminho de cinquenta dias até este domingo. Foram semanas em que Cristo deu aos apóstolos um tempo de vencer todos os medos, dúvidas e lhes transmitir paz. Não se trata apenas de um número exato de dias e sim de um tempo para interiorizarmos o Cristo em nós. Toda experiência profunda precisa de tempo. Mas não termina na Ascenção e sim hoje, Pentecostes cuja força nos transforma por dentro e nos impulsiona para a missionariedade.
A pergunta parece ser necessária: o que é mesmo Pentecostes? Na história do povo de Israel era o dia que celebravam a festa da colheita (Ex 34,10); A festa das Semanas, (Lv 23, 15-21). Para a sua celebração, os peregrinos iam até Jerusalém levando como ofertas os melhores grãos e frutos da terra, em gratidão a Deus. Somente com a dominação grega (Tb 2,1; 2Mc 12,32) é que ganhou o nome de Pentecostes, cujo significado literal é “quinquagésimo dia”. Com o passar do tempo, perdeu essa relação agrícola, ganhando um sentido de recordação do dom da Lei dado a Moisés. Na época do Novo Testamento, esse novo sentido já está estabelecido.
Lucas, autor do livro dos Atos dos Apóstolos, serve-se desse contexto para relatar o envio do Espírito Santo aos discípulos por ocasião da festa. A cidade estava repleta de peregrinos de todo o mundo para agradecer a Deus pela Lei. Assim, Lucas ensina que o Espírito Santo é a nova Lei. Se a Lei de Moisés foi destinada a um povo, o Espírito Santo é destinado a todos facilitando a comunhão e a comunicação.
Já João não relaciona Pentecostes com a celebração da Lei dada a Moisés. Ele une Ressurreição e Pentecostes. É na ressurreição que se dá a descida do Espírito Santo nos apóstolos. Embora a Igreja tenha apreciado mais o esquema de Lucas, descrito na primeira leitura, a perspectiva de João também tem muito sentido. João retrata a situação em que se encontram as comunidades cristãs ao redor do ano 100, aterrorizadas devido a perseguição do império romano. Jesus se apresenta, no centro, como aquele que jamais abandona suas ovelhas e por duas vezes no texto ele diz: “a paz esteja convosco”. Após comunicar a paz que vence o medo, Jesus mostra-lhes as mãos e o lado como síntese da sua vida: as mãos como sinal de serviço e o lado significando o coração com o qual amou até o fim. Toda aquela sensação de abandono, medo e perseguição são acalentadas pela presença do bom pastor que sopra sobre os presentes o Espírito Santo.
Recebido o dom por excelência, o Espírito Santo, a comunidade cristã recebe a missão de reconciliar a humanidade consiga mesma e com Deus. Como nos recorda Paulo na segunda leitura, diante de uma comunidade dividida como a de Coríntios, ele exorta os cristãos a viver a unidade na diversidade, empregando a imagem do corpo humano com seus vários membros. Quando uma comunidade alimenta divisões e vaidades, se fecha ao Espírito Santo.
Portanto, A igreja tem a responsabilidade de chegar a todos os lugares e comunicar o amor de Jesus que é a verdadeira Lei presente em seu Espírito. O que gera o perdão é o amor. Os pecados são perdoados à medida que o amor de Jesus se espalha em todos os lugares. Só há risco de haver pecados sem perdão se os discípulos de Jesus forem omissos e deixarem de comunicar o Seu amor, para comunicar sua própria verdade.
Fonte: Frei Pedro Júnior, OFM