SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO: A ressurreição do Senhor

Santo Antônio a partir da imagem da amendoeira, do gafanhoto e da alcaparra apresentadas no livro de Eclesiástico apresenta um Sermão alegórico, moral e analógico sobre a Ressurreição do Senhor.

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11.04.2023 11:53:01 | 19 minutos de leitura

SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO: A ressurreição do Senhor

1. "A amendoeira florescerá, o gafanhoto engordará e a alcaparra se extinguirá" (Ecl 12,5).

EXÓRDIO - NA RESSURREIÇÃO A HUMANIDADE DE CRISTO FLORESCEU COMO A VARA DE AARÃO

2. Lemos no Livro dos Números que a vara de Aarão germinou e floresceu e, desenvolvidas as folhas, produziu amêndoas (cf. Nm 17,8).

Aarão, sumo pontífice, é figura de Cristo, que não entrou no santuário com sangue de bodes e de bezerros, mas com o próprio sangue (cf. Hb 9,12); este é o pontífice que "fez de si uma ponte" , para que através dele pudéssemos passar da margem da mortalidade para a da imortalidade: hoje sua vara floresceu.

A vara é sua humanidade, da qual se diz: "O Senhor fará sair de Sião a vara do teu poder" (SI 109,2): de fato, a humanidade de Cristo, por meio da qual a divindade exercia seu poder, teve origem em Sião, isto é, no povo judaico, "porque [diz-se no evangelho] a salvação, isto é, o Salvador, vem dos judeus" (Jo 4,22).

Esta vara permaneceu quase árida no sepulcro por três dias e três noites; mas depois floresceu e produziu fruto, porque ressuscitou e nos trouxe o fruto da imortalidade.

I - SERMÃO ALEGÓRICO

3. "A amendoeira florescerá." Gregório diz que a amendoeira é a primeira de todas as árvores a lançar as flores; e o Apóstolo diz que Cristo é o primogênito daqueles que ressuscitam dos mortos (cf. CI 1,18), porque ressurgiu por primeiro.

Observa que a pena infligida ao homem era dupla: a morte da alma e a do corpo: "Em qualquer dia que comeres [disse o Senhor] morrerás indubitavelmente" (Gn 2,17), da morte da alma: e não poderás subtrair-te à lei da morte. De fato, outra tradução diz com maior precisão: "tornar-te-ás mortal". Veio o nosso samaritano, Jesus Cristo, e sobre esta dupla ferida derramou vinho e óleo (cf. Lc 10,34), para que com a efusão de seu sangue destruísse a morte de nossa alma. Com efeito, diz Oscias: "Eu os livrarei do poder da morte, eu os resgatarei da morte. Ó morte, eu hei de ser a tua morte; ó inferno, eu hei de ser a tua destruição!" (Os 13,14). Do inferno tomou uma parte e uma parte a deixou, à maneira daquele que morde, e com sua ressurreição aboliu a lei da morte, pois deu a esperança de ressurgir: "E não haverá mais morte (Ap 21,4).

A ressurreição de Cristo está representada no óleo, que boia sobre todos os líquidos. O júbilo provado pelos apóstolos na ressurreição de Cristo superou qualquer outro júbilo por eles experimentado, quando ele ainda estava com eles no seu corpo mortal. E também a glorificação dos corpos superará qualquer outro júbilo: "Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor" (Jo 20,20).

4. "E o gafanhoto engordará." No gafanhoto é representada a Igreja primitiva, que, com a flor da ressurreição do Senhor, se engrandeceu e foi tomada de maravilhosa alegria. De fato, Lucas escreve: "Não crendo eles ainda e estando fora de si com a alegria, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que se coma? Eles apresentaram-lhe uma posta de peixe assado e um favo de mel" (Lc 24,41-42). O peixe assado é figura do nosso Mediador que sofreu a paixão, foi preso com o laço da morte nas águas do gênero humano, e assado, por assim dizer, no tempo da paixão; ele é para nós também o favo de mel, por motivo da ressurreição, que hoje celebramos. O favo apresenta o mel na cera, e isso representa a divindade revestida da humanidade. E nesta mistura de cera e de mel indica-se que Cristo acolhe na eterna tranquilidade, no seu corpo, aqueles que quando sofrem tribulações por Deus não desfalecem no amor da eterna doçura. Aqueles que cá embaixo, por assim dizer, são assados pela tribulação, serão saciados lá em cima pela verdadeira doçura.

Observa que "hoje o Senhor apareceu cinco vezes": primeiro a Maria Madalena (Mt 16,9; cf. Jo 20,14-18), depois, de novo a ela enquanto estava junto com outros, quando corria para dar a notícia aos discípulos (cf. Mt 28,9); depois a Pedro (cf. Lc 23,34); a seguir a Cléofas e ao seu companheiro [enquanto iam a Emaús] (cf. Ic 24,14-31); e por fim aos discípulos, estando fechadas as portas, depois do retorno dos dois discípulos de Emaús (cf. Ic 24,36-39; Jo 20,19-23). Eis, pois, de que modo o gafanhoto engordou com a flor da amendoeira, quer dizer, de que modo a Igreja primitiva foi alegrada pela ressurreição do Senhor.

Quando o sol queima, o gafanhoto faz saltos e voos; assim a Igreja primitiva, no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo a inflamou, fez em todo o mundo os saltos e os voos da pregação. "Em toda a terra difundiu-se o som de sua voz" (SI 18,5). Assim, tendo-se a Igreja engrandecido, "foi extinguida a alcaparra", que é uma plantinha que se agarra à pedra, e representa a sinagoga, à qual tem sido dada a lei escrita sobre a pedra, para mostrar sua dureza, e sempre permaneceu agarrada a ela. "Este é um povo de dura cerviz" (Ex 34,9).

Quanto mais a Igreja crescia, tanto mais a sinagoga desagregava-se. Concorda com isso aquilo que se lê no Segundo livro dos Reis: "Houve, pois, uma longa guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi, adiantando-se Davi e fortificando-se cada vez mais, enquanto que a casa de Saul decaía todos os dias" (2Sm 3,1). A casa de Davi é a Igreja; a casa de Saul, que se interpreta "aquele que abusa", representa a sinagoga, que, tendo abusado dos dons especiais de Deus, recebeu o libelo de repúdio e abandonou o tálamo do esposo legítimo. Quão foi longo o dissídio entre a Igreja e a sinagoga, é demonstrado pelos Atos dos Apóstolos. A Igreja crescia porque "cada dia o Senhor acrescentava a ela aqueles que eram salvos" (At 2,47). A sinagoga, porém, diminuía cada dia. Daí que Oseias diz: "Chama-o de Não-meu-povo, porque vós já não sois meu povo e eu não serei o vosso Deus"; e ainda: "Esquecer-me-ei totalmente deles; compadecer-me-ei, porém, da casa de Judá» (Os 1,9.6-7), isto é, da Igreja.

A Jesus Cristo, pois, honra e glória nos séculos. Amém.

II - SERMÃO MORAL

5. "Florescerá a amendoeira" etc. Agora veremos o que significam, em sentido moral, a amendoeira, o gafanhoto e a alcaparra. Nestas três entidades estão representadas a generosidade da esmola, a consolação do pobre, a destruição da avareza.

Generosidade da esmola. "A amendoeira florescerá", isto é, o esmoleiro. A ele diz Isaías: "De manhã florescerá a tua semente" (Is 17,11). A semente é a esmola que, de manhã, isto é, tempestivamente, deve florescer na mão do cristão antes de qualquer outra atividade material, como a amendoeira floresce antes das outras árvores.

Observa que na flor existem três elementos: a cor, o perfume e a promessa do fruto. Com a cor alegra-se a vista, com o perfume delicia-se o olfato, com o fruto satisfaz-se o gosto. Assim é com a esmola: na sua cor restaura-se, por assim dizer, a vista do pobre, que tem o olho dirigido para a mão de quem doa. De fato, Pedro, junto com João, disse ao coxo: "Olha para nós! Então ele os olhou, na esperança de receber deles alguma coisa" (At 3,4-5).

E aqui, não sem desgosto, devemos denunciar aquilo que fazem os prelados da Igreja e os grandes deste mundo: eles fazem esperar por longo tempo à sua porta os pobres de Cristo, que imploram e pedem a esmola com voz lacrimosa e, finalmente, só depois que eles se fartaram muito bem e não raras vezes embriagados, mandam que se lhes dê alguma sobra de sua mesa e as lavagens da cozinha. Por certo, Jó não se comportava assim, amendoeira que florescia há tempo e que diz: "Jamais neguei aos pobres o que pediam, nem fiz esperar os olhos da viúva; nunca comi sozinho o meu bocado sem que o órfão também comesse o seu. Porque desde a minha infância cresceu comigo a piedade e a comiseração" (Jó 31,16-18). E isso o dizia falando do alimento. Ouça o que diz do vestido: "Jamais desprezei um peregrino porque não tinha de que vestir-se, e um pobre que não tinha de que cobrir-se: abençoaram-me os seus membros e com a lá das minhas ovelhas se aqueceu" (Jó 31,19-20).

Igualmente o perfume da esmola edifica o próximo, porque recebe dela o bom exemplo e glorifica a Deus, enquanto o espírito daquele que dá se consola na esperança de receber seu fruto na vida eterna.

6. Consolação do pobre. "O gafanhoto engorda." Naum diz que "no tempo de frio os gafanhotos refugiam-se nas sebes" (Na 3,17). Assim os pobres, no rigor da pobreza que os angustia, literalmente refugiam-se junto às sebes, pedindo esmola aos passantes, como leprosos, rejeitados pelos homens. Ou também: as sebes, nas quais existem ramos pontudos e espinhos, representam as pontadas, as dores e as doenças dos pobres. Eis quanto sofrimento! E por isso, quanto é necessária a consolação! O gafanhoto engorda com a flor, o pobre é consolado com a esmola. Por isso Jó diz: "A bênção do que estava a perecer vinha sobre mim, e consolei o coração da viúva" (Jó 29,13). E o Senhor por boca de Isaías: "Aqui é o meu descanso, reparai as forças do que está fatigado; e este é o meu refrigério, e eles não quiseram ouvir-me" (Is 28,12). E, portanto, também eles, quando gritarem: "Senhor, Senhor, abre-nos!" (Mt 25,11), não serão ouvidos. Agora, na pessoa de seus pobres, o Senhor está à porta e bate (cf. Ap 3,20): ser-lhe-á aberto quando o pobre for saciado. Saciedade do pobre, repouso de Cristo. O que tiverdes feito a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes (cf. Mt 25,40).

E observa que diz "engordará" (impinguabitur, engordará). A gordura tem algo em comum com o ar e o fogo: por isso boia sobre a água, porque o ar que existe nela a sustem. Igualmente a consolação do pobre participa do ar da devoção que ele recebe em relação a si mesmo; e do fogo da caridade que tu dás em relação a ti. A devoção o eleva para que reze por ti. De fato, é dito: Repõe a esmola no seio do pobre e ela rogará por ti (cf. Eclo 29,15), a fim de que te sejam perdoados os pecados, para que tua mente seja iluminada pela graça e te seja dada a vida eterna.

7. Destruição da avareza. "A alcaparra se extinguirá." A raiz da alcaparra agarra-se à pedra, na qual é representada a dureza do avarento, que não se enternece diante das misérias dos pobres. O avarento é como Nabal, do qual se diz no Primeiro livro dos Reis que era "um homem duro e muito mau". Os mensageiros de Davi lhe disseram: «Viemos a ti em muito boa ocasião: dá a teus servos e a Davi, teu filho, qualquer coisa que tiveres à mão. Ele lhes respondeu: Quem é Davi? E quem é o filho de Jessé? Hoje são numerosos os servos que fogem aos seus senhores. Pegarei eu, portanto, o meu pão, a minha água e a carne dos animais que matei para os que tosquiam minhas ovelhas, e dá-los-ei a homens que não sei de onde são?" (1Sm 25,3-11). Esta é também a resposta do avarento aos pobres de Cristo, que pedem esmola: ele não dá nada a eles, antes blasfema e os envergonha. Por isso, sucede-lhe o que segue: "Seu coração ficou como morto interiormente e ele tornou-se como uma pedra" (1Sm 25,37). É isso que acontece ao avarento quando lhe é subtraída a graça e é privado de entranhas de misericórdia.

Feliz, porém, aquele que tira de si o coração de pedra e toma um coração de carne (cf. Ez 11,19), que, ferido pelas misérias dos pobres, sofre com eles para que sua compaixão se torne seu sustento e seu sustento marque a destruição de sua avareza. Se alguém tivesse em seu pomar uma árvore estéril, será que não a arrancaria e em seu lugar plantaria uma outra em condições de dar fruto? A avareza é a árvore estéril!

Para que ocupa a terra? Corta-a! (cf. Lc 13,7), arranca-a, e em seu lugar planta a esmola, que possa dar-te fruto para a vida eterna.

Isso te conceda aquele que é bendito nos séculos. Amém.

II - SERMÃO MORAL

8. "A amendoeira florescerá." Aqui são indicadas três coisas: a honestidade da vida, a doçura da contemplação e a extinção da luxúria. Vejamos brevemente cada uma delas.

A honestidade da vida. Lemos no Livro de Daniel: "Eu, Nabucodonosor, estava tranquilo em minha casa e feliz no meu palácio" (Dn 4,1). O que devemos entender por "casa" senão a consciência? E o que por "palácio" senão a segurança da consciência e a confiança que provém da segurança? De fato, também o palácio é uma casa, mas nem todas as casas podem chamar-se palácio. O palácio é uma espécie de casa sólida, alta, real. Se na casa devemos ver representada a consciência, justamente por palácio devemos entender a segurança da consciência. Portanto, senta-se tranquilo na sua casa aquele ao qual a consciência não remorde. Uma adequada reparação e penitência pelos pecados passados e uma vigilante atenção para evitá-los no futuro tornam a consciência tranquila. Está, pois, tranquilo em sua casa aquele ao qual a consciência não remorde, nem pelas culpas passadas nem por aquelas presentes. Estava verdadeiramente tranquilo em sua casa aquele que dizia com sinceridade: "Meu coração nada me reprova em toda a minha vida" (Jó 27,6). Tranquilo estava em sua casa aquele que pôde dizer com sinceridade: "De nada me sinto culpado" (1Cor 4,4). Naquele tempo estava verdadeiramente tranquilo em casa e prosperava no seu palácio, quando dizia: "A nossa glória [mérito] é esta: o testemunho da nossa consciência" (2Cor 1,12).

E já que na flor está a esperança do fruto, justamente na flor é representada a perspectiva segura dos bens futuros. E já que a flor é de alguma forma o início dos frutos futuros, por flor entende-se ao menos uma mudança e uma renovação no esforço de progredir. Portanto, na flor está representada a segura perspectiva dos bens futuros, ou também um renovado esforço em adquirir méritos. Por isso, prospera verdadeiramente em seu palácio aquele que, no testemunho de sua boa consciência, espera com certeza a coroa de glória, e nesse meio-tempo, com o salto e com o voo da contemplação, preliba sua doçura.

9. A doçura da contemplação: "O gafanhoto engordará", o qual, quando o sol queima, costuma dar saltos e voar pelo ar, quase diria, com uma certa alegria. Assim, sem dúvida, também a alma santa, quando é excitada em si mesma por um certo aplauso interior de sua alegria, quando é estimulada a superar a si mesma com a elevação da mente, quando está totalmente absorvida pelas coisas celestes, quando está totalmente imersa nas visões angélicas, parece exatamente que tenha superado os limites de suas possibilidades naturais. Por isso, diz o profeta: "Os montes saltarão como carneiros e as colinas como cordeiros de um rebanho" (SI 113,4). Quem não vê vai além da natureza, ou antes, é contra a natureza, que os montes ou as colinas, à semelhança de carneiros ou de cordeiros que brincam, deem saltos para o alto, e que a terra se separe da terra e se equilibre no vazio? Mas não se mantém talvez suspensa terra sobre terra quando um homem quer colocar-se acima de outro homem, enquanto, porém, a voz do Senhor o admoesta dizendo-lhe: "És pó e ao pó voltarás". (Gn 3,19). Portanto, quando a alma se eleva com a elevação da mente, é saciada pela doçura da contemplação.

Lemos no Cântico dos Cânticos: "Quem é esta que sobe do deserto inebriada de delícias, apoiada sobre o seu amado?» (Ct 8,5). Do deserto, a alma sobe para a contemplação, quando abandona todas as coisas inferiores e, penetrando até o céu, com a devoção imerge-se totalmente nas coisas divinas; e é verdadeiramente inebriada de delícias quando se alegra na plenitude do júbilo espiritual e se revigora na abundância das delícias interiores que lhe são dadas pelo céu e nela copiosamente infusas. A alma apoia-se no seu amado quando nada presume de suas forças, nada atribui a seus méritos, mas tudo à graça do seu amado: "Na realidade foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos" (SI 99,3). E Isaías: «Tu fizeste para nós todas as nossas obras" (Is 26,12). E qual seja a utilidade desta "engorda" do gafanhoto, é expressamente dito por aquilo que segue.

10. A extinção da luxúria: "A alcaparra se extinguirá". Isto se refere aos rins; e já que na zona dos rins tem sede a luxúria, na alcaparra é indicada a luxúria, que é destruída quando a alma é enchida pela doçura [da contemplação] acima descrita. De fato, Daniel diz: "Tendo eu ficado sozinho, vi esta grande visão; e não ficou em mim vigor algum, mudou-se o meu semblante, caí desfalecido e perdi todas as forças" (Dn 10,8). E Jó: "A minha alma prefere um fim violento, e os meus ossos, a morte. Perdi a esperança, não viverei mais" (Jó 7,15-16). Eis de que maneira é destruída a alcaparra. "Daniel, o homem dos desejos" (Dn 10,11) representa o contemplativo que permanece sozinho quando despreza todas as coisas exteriores e com a corda do amor amarra-se à doçura da contemplação, e então, com a mente iluminada, vê a grande vi-são, mas que ainda não pode compreender, já que cá embaixo é contemplada através de um espelho, como em enigma, não ainda face a face (cf. 1Cor 13,12).

Quando a alma é iluminada e elevada dessa maneira, desfalece a força do corpo, o rosto torna-se pálido, a carne é prostrada e não se importa com os prazeres do corpo e do tempo presente, nos quais já não quer absolutamente viver, como fazia antes, pois já não é mais ela que vive, mas vive nela a vida de Cristo (cf. Gl 2,20), que é bendito nos séculos. Amém.

IV - SERMÃO ANAGÓGICO (MÍSTICO)

11. "A amendoeira florescerá, o gafanhoto engordará, a alcaparra se extinguirá." Nestas três comparações são misticamente indicadas a ressurreição do corpo, a glorificação da alma e a destruição da morte. Tratemos de cada uma delas em breves palavras.

A ressureição do corpo: "A amendoeira florescerá". Em Jó encontramos: "Uma árvore tem esperança: se for cortada, torna a reverdecer e brotam os seus ramos. Se sua raiz envelhecer na terra e morrer o seu tronco no pó, ao cheiro da água reverdecerá (novamente] e fará a copa, como no princípio quando foi plantada" (Jó 14,7-9). Embora a árvore, isto é, o corpo do homem, seja cortado pelo machado da morte, seja envelhecido, decomposto na terra e reduzido a pó, todavia o homem deve ter a esperança que ele reflorescerá, isto é, ressurgirá, e que seus membros tornarão a crescer e que, ao cheio da água, isto é, pela munificência da sabedoria divina, brotará de novo, retornará ao seu esplendor, reconstituirá sua copa no que se refere à imortalidade, como quando foi plantado pela primeira vez no paraíso terrestre.

De fato, a primitiva condição do homem no paraíso terrestre foi a possibilidade de não morrer: mas por causa do pecado lhe foi imposta a pena de não poder não morrer; agora, na eterna felicidade, resta-lhe uma terceira maneira de ser: não poder mais morrer. A amendoeira, pois, florescerá. Diz o salmo: "Refloresceu a minha carne e com todas as minhas forças cantarei seus louvores" (SI 27,7). Recorda que a carne do homem floresceu no paraíso terrestre antes do pecado, floriu depois do pecado, mas refloresceu na ressurreição de Cristo, "superflorescerá", isto é, florescerá perfeitamente, na ressurreição final.

 12. E então "o gafanhoto engordará", , quer dizer, a alma será glorificada. "Saciar-me-ei com a visão da tua glória" (S1 16,15).

E ainda: "Alimentou-os com a flor do trigo e os saciou com mel que sai da rocha" (SI 80,17). O trigo e a rocha são figura de Cristo, Deus e homem: na miséria da peregrinação terrena é trigo para nós, porque restabelece; é rocha porque acolhe aqueles que se refugiam nele e os defende: "Os penhascos dão abrigo às marmotas" (SI 103,18), isto é, aos pecadores convertidos; na glória da pátria será para nós flor de trigo e mel da rocha, porque nos nutrirá com o esplendor da sua humanidade e nos saciará com a doçura de sua divindade. De fato, diz Isaías: "Vereis e alegrar-se-á o vosso coração", eis a engorda do gafanhoto; e "os vossos ossos germinarão como erva fresca"" (Is 66,14), eis a flor da amendoeira: "Vereis" o esplendor da humanidade o vosso coração se alegrará" com a doçura da divindade.

13. E então, "a alcaparra se extinguirá" Diz o Apóstolo: "Quando este corpo corruptível se vestir de incorruptibilidade e este corpo mortal se revestir de imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura [nas acima citadas passagens de Isaías e de Oscias1: A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a lei. Portanto, sejam dadas graças a Deus que nos deu a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Cor 15,54-57). Ele é bendito nos séculos. Amém.

Fonte: Sermões | Santo Antônio; tradução de Frei Ary E. Pintarelli, OFM: Vozes, 2019
Imagem: WILLEM VAN HERP I ANTWERP 1614 (?) - 1677
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