Um olhar vocacional a partir do Escritos de Santa Clara
Acompanhe o artigo das Irmãs Clarissas do Mosteiro do Santíssimo Sacramento de Canindé que apresentam aspectos da Vocação de Santa Clara em meio a celebração do III Ano Vocacional.
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11.08.2023 16:39:23 | 7 minutos de leitura

Inspiradas no Ano Vocacional, em que a Igreja no Brasil nos faz refletir sobre a graça da vocação, queremos lançar um olhar vocacional sobre os escritos de nossa mãe Santa Clara se Assis.
De início podemos aprender de Clara que vivendo na intimidade da oração, na escuta assídua da Palavra a prática da nossa vida vai se tornando espelho e exemplo do seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. No reconhecer a vocação somos convidados a seguir o exemplo de Clara que com amor generoso e sem reservas abraça com alegria o projeto de vida e fraternidade que o Senhor nos propõe no Evangelho.
Neste sentido ela escreve: “Pois o próprio Senhor colocou-nos não só como modelo, exemplo e espelho para os outros, mas também para nossas irmãs, que ele vai chamar para a nossa vocação, para que também elas sejam espelho e exemplo para os que vivem no mundo.” (TestCl 19)
Despertando assim nossa consciência para vivermos com responsabilidade os dons que Deus nos confia. Coerentes com as consequências do nosso sim a Cristo e a seu projeto, nos tornamos exemplo e espelho para aqueles que precisam também hoje encontrar a ação de Deus presente em suas vidas.
Passemos então a contemplar nas palavras de Clara algumas aspectos bem visíveis em todo percurso de busca e decisão vocacional.
Vocação: o maior benefício
“Entre outros benefícios que temos recebido e ainda recebemos diariamente da generosidade do Pai de toda misericórdia e pelos quais mais temos que agradecer ao glorioso Pai de Cristo, está a nossa vocação que, quanto maior e mais perfeita, mais a Ele é devida.
Para Clara a vocação é benefício, é aliás o maior benefício que recebemos, é portanto graça, dom recebido sem merecimento de nossa parte, é Deus quem primeiro vem ao nosso encontro, é preciso ter o coração aberto para receber o que Ele nos oferece, o dom do chamado.
Clara nos convida a recebê-lo com gratidão para que na gratuidade a nossa vida se torne uma restituição fecunda, que testemunha e transborda para todos em caridade.
Vocação: despojamento e decisão
“ ...embora pudésseis gozar, mais do que outros, das pompas e honras deste mundo, desposando legitimamente, com a maior glória, o ilustre imperador, como teria sido conveniente à vossa excelência e à dele, rejeitastes tudo isso e preferistes a santíssima pobreza e as privações corporais, com toda a alma e com todo o afeto do coração, tomando um esposo da mais nobre estirpe, o Senhor Jesus Cristo, ...”
Toda vocação requer despojamento e decisão. Despojar-se do “eu” para acolher o novo. Santa Clara enaltece todo despojamento e decisão de Santa Inês ao deixar as riquezas do mundo e se entregar de corpo e alma a Jesus Cristo. Todo vocacionado é chamado a seguir os passos do Mestre que é Jesus Cristo. Tomar a firme decisão de segui-Lo é abraçar com amor o que, depois da nossa vida, temos de mais precioso: o dom da nossa vocação.
Vocação: um caminho transformante
“Ponha o coração na figura da substância divina e transforme-se inteira, pela contemplação, na imagem da divindade. Desse modo também você vai experimentar o que sentem os amigos quando saboreiam a doçura escondida, que o próprio Deus reservou desde o início para os que o amam .”
O que Santa Clara expressa à Inês de Praga por meio deste escrito não é puro e simplesmente um conselho, mas é um compartilhar de uma experiência que ela já vive profundamente. Ela descreve o segredo da fidelidade de sua vocação, o segredo que transformou o seu caminho de seguimento a Jesus Cristo: Colocar a mente e o coração na contemplação. Quando fazemos isso diariamente nossa vida de discípulos vai se transformando e assim, vamos adquirindo, como Santa Clara, os traços, o jeito do Mestre Jesus. Pondo nosso olhar e o nosso coração no Senhor, teremos também nós uma vida transformada, transfigurada. Vocação: a alegria do seguimento
“Eu me alegro de verdade, e ninguém vai poder roubar-me esta alegria, porque já alcancei o que desejava abaixo do céu: vejo que você, sustentada por maravilhosa prerrogativa de sabedoria da própria boca de Deus, já suplantou impressionante e inesperadamente as astúcias do esperto inimigo: o orgulho que perde a natureza humana, a vaidade que torna estultos os corações dos homens. Vejo que são a humildade, a força da fé e os braços da pobreza que a levaram a abraçar o tesouro incomparável escondido no campo do mundo e dos corações humanos, com o qual compra-se aquele por quem tudo foi feito do nada.”
Clara louva e se alegra pela decisão de Inês em seguir Jesus. A nossa decisão por Cristo nos torna coerentes com os valores do Evangelho fazendo brotar a alegria verdadeira que faz superar os desafios que tentam impedir a prática de uma autêntica vida cristã.
Vocação: iniciativa divina e resposta humana
“Depois que o Altíssimo Pai celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração para fazer penitência segundo o exemplo e ensino de nosso bem-aventurado pai Francisco, pouco depois de sua conversão, com algumas irmãs que Deus me dera logo após a minha conversão, eu lhe prometi obediência voluntariamente, como o Senhor nos concedera pela luz da sua graça através da vida admirável e do ensinamento dele. Vendo o bem-aventurado Francisco que nós, embora frágeis e fisicamente sem forças, não recusávamos nenhuma privação, pobreza, trabalho, tribulação, nem humilhação ou o desprezo do mundo, e até julgávamos tudo isso as maiores delícias, como pôde comprovar frequentemente em nós a exemplo dos santos e dos seus frades, alegrou-se muito no Senhor.”
Clara nos ensina que vivendo a experiencia de fé na comunhão eclesial e no acolhimento das mediações nos tornamos sensíveis à voz de Deus que chama a uma missão específica, seja na família, na vida consagrada ou na sociedade e nos torna assim aptos para uma resposta livre e comprometida com o projeto de Deus.
Vocação: ser um outro Cristo no hoje da história
“Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto. Pois nesse espelho resplandecem a bem-aventurada pobreza, a Santa humildade e a inefável caridade. Preste atenção no princípio do espelho: a pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio! No meio do espelho, considere a humildade, as fadigas sem conta e as penas que suportou pela redenção do gênero humano e no fim deste espelho, contemple a inefável caridade com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa.”
Seguir Jesus para Clara é viver em um processo ininterrupto que atualiza a presença de Cristo aqui aonde estamos inseridos, seja na família, na sociedade, na igreja e nos mais diversos ambientes. Somos chamados a tornar presentes a pobreza, a humildade e a caridade de Cristo. Em síntese encarnar o Evangelho em nós mesmos.
Muito mais poderíamos aprofundar no que Clara nos deixou em herança espiritual de seus escritos para iluminar nosso caminho vocacional que deve ser percorrido “sem perdermos de vista nosso ponto de partida”.
Clara com certeza traduz em seus escritos aquilo que foi já encarnado em sua vida, na aventura de tudo deixar para seguir o Cristo que a conquistou.Que todos aqueles que buscam reconhecer a sua vocação se deixem tocar pelos conselhos de tão clara mestra: “São a humildade, a força da fé e os braços da pobreza que os levarão a abraçar o tesouro incomparável... Deixem de lado tudo que neste mundo falaz e perturbador prende seus cegos amantes... Melhor guardar tesouros no céu que na terra... Se alguém lhes disser outra coisa, ou sugerir algo diferente, que impeça a sua perfeição (...), não siga seu conselho... Confiantes e alegres, avancem...Não confiem em ninguém, não consintam com nada (...) que seja tropeço no vosso caminho, para não cumprirem seus votos ao Altíssimo... Com que zelo da mente e do corpo observem o que foi mandado por Deus.” (Santa Clara)
“Pois o próprio Senhor colocou-nos não só como modelo, exemplo e espelho para os outros, mas também para nossas irmãs, que ele vai chamar para a nossa vocação, para que também elas sejam espelho e exemplo para os que vivem no mundo.” (TestCl 19)
“Entre outros benefícios que temos recebido e ainda recebemos diariamente da generosidade do Pai de toda misericórdia e pelos quais mais temos que agradecer ao glorioso Pai de Cristo, está a nossa vocação que, quanto maior e mais perfeita, mais a Ele é devida.

“ ...embora pudésseis gozar, mais do que outros, das pompas e honras deste mundo, desposando legitimamente, com a maior glória, o ilustre imperador, como teria sido conveniente à vossa excelência e à dele, rejeitastes tudo isso e preferistes a santíssima pobreza e as privações corporais, com toda a alma e com todo o afeto do coração, tomando um esposo da mais nobre estirpe, o Senhor Jesus Cristo, ...”
“Ponha o coração na figura da substância divina e transforme-se inteira, pela contemplação, na imagem da divindade. Desse modo também você vai experimentar o que sentem os amigos quando saboreiam a doçura escondida, que o próprio Deus reservou desde o início para os que o amam .”
“Eu me alegro de verdade, e ninguém vai poder roubar-me esta alegria, porque já alcancei o que desejava abaixo do céu: vejo que você, sustentada por maravilhosa prerrogativa de sabedoria da própria boca de Deus, já suplantou impressionante e inesperadamente as astúcias do esperto inimigo: o orgulho que perde a natureza humana, a vaidade que torna estultos os corações dos homens. Vejo que são a humildade, a força da fé e os braços da pobreza que a levaram a abraçar o tesouro incomparável escondido no campo do mundo e dos corações humanos, com o qual compra-se aquele por quem tudo foi feito do nada.”
“Depois que o Altíssimo Pai celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração para fazer penitência segundo o exemplo e ensino de nosso bem-aventurado pai Francisco, pouco depois de sua conversão, com algumas irmãs que Deus me dera logo após a minha conversão, eu lhe prometi obediência voluntariamente, como o Senhor nos concedera pela luz da sua graça através da vida admirável e do ensinamento dele. Vendo o bem-aventurado Francisco que nós, embora frágeis e fisicamente sem forças, não recusávamos nenhuma privação, pobreza, trabalho, tribulação, nem humilhação ou o desprezo do mundo, e até julgávamos tudo isso as maiores delícias, como pôde comprovar frequentemente em nós a exemplo dos santos e dos seus frades, alegrou-se muito no Senhor.”
“Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto. Pois nesse espelho resplandecem a bem-aventurada pobreza, a Santa humildade e a inefável caridade. Preste atenção no princípio do espelho: a pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio! No meio do espelho, considere a humildade, as fadigas sem conta e as penas que suportou pela redenção do gênero humano e no fim deste espelho, contemple a inefável caridade com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa.”
“São a humildade, a força da fé e os braços da pobreza que os levarão a abraçar o tesouro incomparável... Deixem de lado tudo que neste mundo falaz e perturbador prende seus cegos amantes... Melhor guardar tesouros no céu que na terra... Se alguém lhes disser outra coisa, ou sugerir algo diferente, que impeça a sua perfeição (...), não siga seu conselho... Confiantes e alegres, avancem...Não confiem em ninguém, não consintam com nada (...) que seja tropeço no vosso caminho, para não cumprirem seus votos ao Altíssimo... Com que zelo da mente e do corpo observem o que foi mandado por Deus.” (Santa Clara)
Fonte: Irmãs Clarissas do Mosteiro do santíssimo Sacramento Canindé-CE
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