Sarau Canta Francisco celebra a Criação com músicas e poesias

Evento aconteceu no último dia 24 de maio e reuniu a comunidade para celebrar os 800 anos da Cântico das Criaturas e os 10 anos da Encíclica Laudato Si

       No ano em que celebramos os 800 anos do Cântico das Criaturas e os 10 anos da Encíclica Laudato Si’, a Fraternidade do Convento São Francisco de Olinda, juntamente com o Serviço Provincial de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC), realizou um sarau reunindo arte, cultura e convivência fraterna para marcar essas datas jubilares.

  

     Permita-me, neste texto, partilhar mais do que uma informação: uma experiência vivida que me transportou ao tempo das primeiras fraternidades franciscanas. Embora não tenha vivido naquela época, aquela noite me pareceu familiar, como se eu estivesse lá.

       O claustro interno do convento, ladeado por azulejos portugueses que narram a vida de São Francisco, foi o espaço escolhido para acolher o evento. À medida que a noite caía, no aconchego dos abraços, na alegria dos encontros e reencontros, no afinar dos instrumentos e nos últimos ensaios das poesias, dava-se início ao momento cultural e religioso batizado de Canta Francisco.

       Logo na abertura, Frei Abraão Silva, ao apresentar o evento, deixou claro que, embora o título possa soar como um pedido para que Francisco continue cantando, o verdadeiro canto deve brotar da nossa própria vida. Assim como o Santo de Assis entoou, com sua existência, um hino de compromisso e amor à criação, hoje o desafio é fazer com que nosso corpo, nossa vida, nossa arte, continue a compor nos compassos, no ritmo e na melodia desse grande compositor divino.

       Antes do início das apresentações, alguns avisos importantes foram dados: havia cafezinho expresso sendo servido, garrafas d’água disponíveis para adoção (a fim de evitar o uso excessivo de copos descartáveis), além de uma exposição repleta de cartões postais que proporcionava um contato sensível com o carisma franciscano.

       O claustro estava cheio. O formato circular das cadeiras evocava a imagem da ciranda da vida, exaltada por Francisco no Cântico das Criaturas, e remetia à Casa Comum, destacada por outro Francisco, o papa, onde tudo está interligado.

       O grupo Vozes da Resistência interpretou canções proféticas de Reginaldo Velozo. O Sr. Ivan Vieira, ao som do violão, exaltou o sertão, trazendo à tona a dureza da realidade nordestina, como no tema da seca que “não pode, mas é”, como diz uma de suas músicas. Os frades, e o grupo da Comunidade de Mirueira, acompanhados de instrumentos de corda e outros recursos artísticos, deram continuidade ao canto da vida, lembrando nomes como Belchior, Djavan, Zé Ramalho e tantos outros.

       Entre os cantos, soavam poesias. Frei Aloísio Fragoso, com sua forma particular, recitou o Cântico das Criaturas, fazendo-o ecoar novamente após tantos séculos.

       O dia ensolarado contrastou com a chuva que logo chegou. Longe de ser um problema, ela reconfigurou o espaço do evento, conduzindo a comunidade ao salão dedicado a Sant’Ana que, como boa mãe, acolheu a todos para que os louvores à vida continuassem. Já não se ouviam apenas vozes, instrumentos e palmas, agora a chuva, ora torrencial, ora suave, parecia acompanhar a noite e, ao tocar o chão ou os telhados, marcava o ritmo livre e espontâneo da Criação.

       O fim do evento, na verdade, foi o começo. Frei José Edilson, animador do JPIC, ao entoar a melodia de Zé Vicente dado a um hino franciscano, convidou todos a saírem do sarau dispostos a transformar o mundo em uma extensão daquela noite, sendo um lugar de mais acolhimento, reflexão e poesia.

       Nos bastidores, pelos corredores escurecidos, ainda se ouvia:

 — Quando teremos outro?

 — Olha aí a vida!

 Agora é tempo de ouvir o chamado: Cante! Canta, Francisco!

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