A esperança de um Brasil devolvido aos brasileiros anima a 45ª Romaria da Terra e das Águas

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10.07.2022 21:50:54 | 5 minutos de leitura

A esperança de um Brasil devolvido aos brasileiros anima a 45ª Romaria da Terra e das Águas

O Santuário do Bom Jesus da Lapa é um centro religioso do interior  baiano que recebe inúmeras romarias e que se torna um ambiente de ânimo e  fortalecimento para quem ali entra. Construído em grutas de um conjunto  rochoso, ele é, por si, sinal de resistência, como as inúmeras plantas, dentre elas tantos cactos, que persistem em nascer na dureza dentre as pedras. É vida que  nasce! É vida que luta, que insiste em viver! 

Nesta mesma perspectiva, vemos afluírem tanta gente que não tem uma  dignidade de vida respeitada, que sobrevive a um projeto de morte, destruição  e exploração com seus direitos limitados por um sistema de governo autoritário  e opressor, que não tem acesso à sistemas educacional e de saúde decentes,  que não tem uma terra para de lá tirarem seu sustento ou, em alguns casos,  que tem sua terra ameaçada em prol de um falso desenvolvimento que  favorece apenas os mais ricos, os empresários, os que se fartam na máquina  política atual... 

É diante de tantas motivações como estas, que foi promovida a Romaria  da Terra e das Águas entre os dias 01 a 03 de julho. Esta romaria serviu para  dar ânimo ao povo de Deus que luta por um mundo melhor e pela construção  do Reino dos Céus aqui e agora. Depois de dois anos acontecendo de forma  virtual ou semipresencial, esta edição reuniu cerca de 5.000 romeiros e  romeiras de diversas partes do país e teve como tema norteador “Ouvir e  caminhar juntos: somos povos da terra e das águas”. 


PRIMEIRO DIA 

No início da noite do primeiro dia, víamos as ruas se enchendo de gente  indo em direção ao santuário para participar da missa de abertura que foi  presidida pelo bispo da diocese de Barra, Dom Luiz Cappio. Nela, o celebrante  que também é frade franciscano, uniu sua voz às vozes dos tantos fiéis ali  presentes para dirigir a Deus uma prece de que o Brasil fosse devolvido aos  brasileiros, verdadeiros herdeiros e guardiães das riquezas deste país. Ele  afirmava


“Bom Jesus nos ajude a devolver o Brasil ao povo brasileiro.  Infelizmente pela política governamental vigente, o Brasil está  sendo entregue a cada dia às grandes potências econômicas, aos  grandes conglomerados econômicos. Não podemos permitir que  isso aconteça. O Brasil é dos pobres, a maioria do povo: dos  indígenas que já estavam aqui antes dos colonizadores; e dos  negros que durante 300 anos foram escravizados. (...) O povo  brasileironunca foi tão pobre” 


Ainda nesta noite, concluindo o primeiro dia, foi exibido o filme “Pureza”,  estrelado por Dira Paes, que conta a história da personagem homônima numa busca por seu filho perdido e que o encontra em situações precárias de  escravidão.

 

SEGUNDO DIA  

O segundo dia de romaria foi marcado por algumas plenárias  espalhadas na cidade que tinham como temas Terra e Território, Fé e Política,  Rio São Francisco e outras bacias, Juventudes e Crianças. O que foi discutido  em cada um desses, por si, dá “pano na manga” para tanta reflexão boa, mas  que sinteticamente podemos garantir que de lá partiram inúmeros  compromissos que podem ser lidos na “Carta da Lapa”. 

Um outro ponto que marcou esta romaria foi a Via Sacra no final da tarde  do dia 02. Nela, as dores e cruzes dos povos originários e tradicionais foram  congregadas às dores e cruz de Cristo em três significativas paradas entre a  esplanada do Santuário e a Igreja de Bom Jesus dos Navegantes que  recordaram a condenação, morte e ressurreição. Na primeira, recordavam-se  os povos atingidos pelas barragens e condenados a viver às margens de uma  sociedade desumana. Na segunda, com a morte de Cristo fazia-se memória dos 13 indígenas assassinados entre julho de 2021 e junho de 2022 e da  opressão vivida por estes povos e pelos ribeirinhos. 

Já na terceira e última estação, às margens do rio, celebrava-se a  ressurreição de Cristo como sinal de esperança diante das tantas lutas que  eram experimentadas pelos grupos ali presentes. Um gesto significativo é que,  durante toda a caminhada penitencial, ia à frente o Frei Luciano Bernardi,  franciscano conventual, que carregava a imagem de São Francisco de Assis,  carinhosamente chamado pelo povo simples de “pai dos pobres”. 


TERCEIRO DIA  

O último dia de romaria foi marcado por um sentimento de gratidão por  tudo o que foi ali vivido e experimentado. A 45ª Romaria da Terra e das Águas  em Bom Jesus da Lapa foi marcada por dias intensos, de uma espiritualidade  libertadora e com os pés tocando o chão. Por isso, não se consegue imaginar  alguém que tenha vivido esses dias sem que brote, no mais íntimo do seu  coração, a disposição de arregaçar as mangas e assumir os compromissos que  foram frutos das plenárias do dia anterior. 

Por fim, concluiu-se a romaria do jeito que começou: com a celebração  eucarística. A Eucaristia torna-se, então, força na caminhada e favorece a união  com Cristo e com todos os irmãos e irmãs. Já não é mais um problema de  alguns, mais aquilo que foi colocado ali em comum, as alegrias e tristezas,  agora pertence a todos. Como o lema já previa, Jesus se aproximou destes seus  filhos e começou a caminhar no meio deles.


Frei Bruno Henrique, OFM

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