A santa unidade vivida por Santa Clara nos convida a reflexão em meio a um processo de Sinodalidade

Um dos tantos ensinamentos de Clara de Assis foi a forma como a mesma estabeleceu sua relação entre a sua comunidade e com todos os que estavam a sua volta. A santa unidade presente nos escritos e nos pensamentos clarianos se torna ainda mais necessário em nossos dias.

Notícias

11.08.2022 07:03:38 | 3 minutos de leitura

A santa unidade vivida por Santa Clara nos convida a reflexão em meio a um processo de Sinodalidade

      Neste dia 11 de agosto a Igreja celebra Santa Clara de Assis, fundadora, virgem e dentre tantas características que nos chama atenção desta Plantinha de São Francisco uma ganha espaço e se torna propício para o momento eclesial onde vivemos, marcado pela sinodalidade. Estamos falando da observância e do desejo profundo de viver a santa unidade.

      Em Clara de Assis resplandecia a unidade, porque antes de tudo viveu a busca incessante de estar unida ao Esposo Celeste num caminho de intimidade e de total consagração de si mesma. A relação de Clara com Cristo é tornada visível no transbordamento de uma caridade encarnada na relação com suas Irmãs, com Francisco e seus irmãos, com a Igreja, com toda a humanidade e com toda a criação, através de um contínuo “olhar, considerar e contemplar” para então encontrar, escutar e discernir juntos, num caminho de fé que possibilita ver a presença e a ação de Deus no decurso da própria história e de toda a história humana. Pela vida e pelas palavras Clara ensina-nos o inestimável dom da unidade, reflexo da Comunhão da Trindade, caminho de corresponsabilidade no amor, onde todos são vistos como participantes de uma única e mesma dignidade.

      Na produção deste artigo, contamos com trechos retirados do Livro Espiritualidade de Santa Clara d a Ir. Maria Victoria Triviño, OSC e do artigo: Chiara D"Assisi: Donna Sinodale-Fr. Fábio Cesar Gomes da Revista Comunhão e Comunicação nº59; Queremos abaixo detalhar alguns desejos de unidade que Clara trazia para com tudo que estava ao seu redor, na certeza de assumir o nosso desejo de também caminhar com ela. 


O caminhar de Clara com Jesus

      Desde cedo ainda na casa paterna Clara deixou-se guiar pelo desejo ardente de unir toda a sua vida a vida de Cristo Pobre e Crucificado. À medida que crescia e amadurecia nas sendas da oração no seguimento de Jesus, tanto mais se desdobrava em caridade operosa para com os pobres. Fazia-se presente junto deles através das frequentes doações que lhes enviava para alívio de sua indigência. Pertencendo a alta nobreza de Assis seu coração não era insensível àqueles que nada tinha, ao contrário, os necessitados tomavam parte da abundância de sua casa. Mergulhar na vida de Deus significou para Clara participar também da vida do pobre. Seguia Cristo sem divisão: os preferidos de Jesus eram também os seus. Seguindo o exemplo de Clara somos convidados a seguir Jesus caminhando junto com os que nada tem. A deixar o coração sensível para perceber o Cristo que clama, a testemunhar a presença fraterna que se faz dom a partilhar com os que mais precisam.


Clara, mulher que caminha com Francisco

      “Se Cristo é o Caminho no qual e com o qual Clara quer caminhar, segundo o que ela nos diz em seu Testamento, foi Francisco a o “mostrar e ensinar com a palavra e o exemplo” (TestC5). Por isso, se Cristo é o Caminho, Francisco foi sempre para Clara a seta, a indicação segura que sempre apontava em direção a Cristo. E isto, desde o início de sua experiência espiritual, quando, segundo a Legenda, aquele Francisco, do qual Clara talvez havia assistido o despojamento diante do Bispo de Assis, “infundiu em seus ouvidos a doce relação esponsal com Cristo” (LegC5,5). Desde o início, portanto, Clara caminhou com Francisco, permanecendo sempre ao seu lado com a presença da sua oração.” 

      Aprendemos com Clara a seguir com docilidade a Voz do Senhor que nos orienta e nos fala através das mediações que o Senhor coloca em nosso caminho de fé.

Clara que caminha com suas Irmãs

       “São numerosas as passagens das Fontes Clarianas que testemunham o quanto Clara, para além das graças concedidas a ela por Deus, e o título de Abadessa que lhe foi conferido, não se sente jamais acima de suas Irmãs de São Damião, condividindo com elas as fadigas e as alegrias do caminho comum no seguimento de Cristo Pobre e Crucificado. Na verdade, Clara não pensa no seu papel de Abadessa em termos de poder sobre suas Irmãs, mas de serviço e de exemplo (cf. TestC 53,61), determinando que a Abadessa convoque, ao menos uma vez por semana todas as Irmãs ao Capítulo (cf. RsC 4,15), ocasião privilegiada onde as Irmãs possam regular o ritmo do próprio caminho.” 

      Clara confia na corresponsabilidade das Irmãs para a vivência e o cuidado do Carisma, que marca a vida das Irmãs pela unidade de espírito, mútua caridade e altíssima pobreza. Como Igreja, todos somos chamados a aprender também a corresponsabilidade, oferecendo um testemunho de comunhão e unidade.

Clara, uma mulher que caminha com a Igreja

      Conhecemos todas as dificuldades que Clara enfrentou para aprovar a sua Regra: as dificuldades de uma hierarquia eclesiástica que, apesar de a amar e a admirar, tinha grandes dificuldades de compreender a natureza específica de seu carisma. Mas em Clara não vemos jamais uma palavra de condenação ou de falta de respeito pela Igreja, jamais um movimento de ruptura, porque, para ela, caminhar com Cristo, isto é, observar “para sempre a santa pobreza e humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua santíssima Mãe e o Evangelho “, é possível somente quando se caminha com a Igreja, “sempre sujeita e subordinada ao pés da Santa Igreja...”(RsC 12,13) Uma Igreja que é aquela triunfante que Clara contempla na sua glória mas, ao mesmo tempo, é aquela militante marcada de fragilidade e de incoerência humana, que ela não quer que as suas Irmãs ofendam jamais, permanecendo sempre fiéis no caminho de Cristo (cfr. TestC 74-75), invocando sobre elas a benção de Deus afim de que possam “crescer em graça e virtude entre os seus servos e as suas servas na Igreja militante, exaltando e glorificando no céu na Igreja triunfante entre os seus santos.

      Com Clara aprendemos a caminhar em comunhão com a Igreja, em obediência e docilidade filial ao Santo Padre, que para Clara era o doce Cristo na terra.

Clara uma mulher que caminha com a humanidade

      Para Clara o horizonte (de comunhão) se alarga ainda mais. Portanto, ela não quer somente caminhar com Francisco, com as suas Irmãs e com a Igreja, mas também caminhar com toda a humanidade, pela qual Cristo se fez Caminho e pela qual viveu, morreu e ressuscitou. Por isto, no claustro de São Damião, Clara deixava entrar todos os dramas e as alegrias da humanidade, tanto que muitas pessoas acorriam a São Damião para pedir a sua benção e a sua oração, como sabemos dos vários testemunhos de curas e libertações narradas em seu Processo de Canonização. Portanto, como diz no seu Testamento, Clara desejava que as Irmãs, transformadas no espelho-Cristo, fossem “um exemplo e um espelho para aqueles que vivem no mundo”. 

      No coração de Clara havia espaço para todos, com ela aprendemos a alargar os espaços do coração para acolhermos nossos irmãos e irmãs para além de quaisquer diferenças, neles contemplamos o próprio Cristo, em suas dores e esperanças.

Clara, uma mulher que caminha com toda a criação

      No tempo de Francisco e Clara não se falava de Ecologia, que é uma palavra moderna, mas eles já viviam o que ela significa, isto é, a admiração e o respeito por todo ser da criação e o conhecimento de que tudo está interligado. (...) Clara viveu uma estreita relação com a natureza que a circundava em São Damião, habitando ali com sobriedade, trabalhando com as próprias mãos, lavando os pés das suas irmãs e louvando sempre a Deus por todas as suas criaturas, como aconselhava às irmãs que enviava a servir fora do mosteiro, segundo quanto nos diz a 14ª testemunha de seu Processo de Canonização, exortando “que quando vissem as árvores belas, floridas e frondosas, deviam louvar a Deus, e do mesmo modo quando vissem os homens e as outras criaturas, louvassem sempre a Deus por cada coisa e em todas as coisas.” 

      Clara nos ensina a cuidar da criação, que para ela é reflexo do amor criador de Deus, nela se manifesta o cuidado e o respeito para com todas as criaturas


      A convocação do Papa Francisco para este processo sinodal que segue até 2023, é uma constante busca pela unidade, unidade esta que diferente da uniformidade quer unir todos os irmãos com suas diferenças e individualidades no mesmo espaço eclesial, favorecendo a cultura do encontro, a escuta e ainda os processos de discernimentos existentes. Este processo que tem sido tão caro para Francisco e que foi para Clara deve guiar a vida eclesial, voltando cada vez mais para suas origens onde os cristãos viviam em comum-unidade. 

      A Santa Unidade é o aroma da Forma de Vida inaugurada em São Damião. Clara por palavras e muito mais pela vida convoca suas Irmãs para uma relação comunitária como participação na Comunhão de amor da Trindade. Tanto nas expressões de caridade como nos momentos de decisão, nos quais Clara reuni todas as irmãs para um caminho de discernimento para o bem comum. A Regra redigida por Clara apresenta os meios necessários para se garantir uma convivência de igualdade. Na Comunidade de Clara se esquecia as diferenças da origem social de cada uma, havia busca por autêntica e comum dignidade, como participantes de uma mesma vida, missão e destino.

      Aprendemos de Clara a conservar o espírito de Santa Unidade vivendo os passos que a Igreja hoje nos propõe: encontrar, escutar e discernir. Esta forma de caminhar juntos é o que edifica e constrói o Reino de Deus.

Fonte: Irmãs Clarissas de Canindé | Comunicação Provincial
Mais em Notícias
 

Copyright © Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil.
Direitos reservados, acesse a política de privacidade.

X FECHAR
Cadastre-se para
conhecer o
nosso carisma