Após restauração de azulejos, Claustro do Convento São Francisco em Salvador é abençoado e reaberto
Os conjunto de azulejos que apresenta temas voltados a Moral da Vida Humana e a Filosofia dos Antigos e Modernos, estavam em restauro desde 2020 e após as reformas feitas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional foi reaberto ao público.
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15.02.2023 11:41:39 | 1 minutos de leitura

A Igreja e Convento de São Francisco, que fica no Pelourinho em Salvador, são uma das mais importantes edificações da Bahia e do Brasil. As construções foram feitas entre os séculos XVII e XVIII e trazem ricos detalhes e expressões nas obras dos muitos artistas brasileiros e portugueses, frades ou não, que ajudaram a tornar este complexo Patrimônio Nacional.
A igreja, que teve sua construção iniciada em 1708, e é reverenciada por todos que ali passam. Sua exuberância e beleza são expressas principalmente na decoração em talhas douradas. O templo é considerado uma das Sete Maravilhas da arquitetura de Origem Portuguesa no Mundo. O convento precede à construção da igreja, tendo sua edificação iniciada em 1587, passando por muitas alterações até chegar ao conjunto que se pode ver hoje.
Um destaque importante na construção do convento é o claustro que, depois do lançamento da pedra fundamental em 1686, foi o primeiro projeto a ser concluído tendo como autor Francisco Pinheiro. O ambiente é decorado por painéis de azulejos, doados por Dom João V, que mostram cenas e inscrições moralistas diversas, retiradas do livro Teatro Moral da Vida Humana e de toda a Filosofia dos Antigos e Modernos. Os azulejos foram ilustrados com estampas do artista Otto Van Veen.
O claustro, na espiritualidade franciscana, tem uma grande importância. É entorno dele que se encontram as celas (quartos dos frades) e onde fica a clausura (lugar restrito). Comumente os claustros são ornados com plantas, flores e ervas para lembrar o paraíso narrado no Gênesis. Também tem a função de rememorar constantemente aos franciscanos o respeito pela criação. Na arquitetura religiosa dos conventos e mosteiros os claustros ficam ao centro das construções e possuem uma forma quadrada, remetendo aos quatros pontos da terra. Na espiritualidade franciscana o claustro é o mundo dos frades e o mundo é o claustro deles.
Nesses séculos de existência, vários espaços desse imenso complexo já passaram por reconstruções e restaurações. Em 2005 os azulejos do claustro foram cobertos por gaze para evitar que a superfície pintada se desprendesse e desde então vinha-se buscando investimentos e parcerias para a realização das obras de restauro. Ainda em 2017 foi apresentado um projeto final para as obras, ficando no papel até 2019, quando o governo federal, através do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), aprovou a ordem de serviço, no valor de mais de R$ 2,6 milhões, para dar início às obras.
Mais de 30 mil peças de azulejaria portuguesa, que compõem os 110 painéis do claustro, passaram a ser restauradas pela empresa MEHLEN Construções LTDA, com o início em fevereiro de 2020.
Os azulejos dos painéis da parte inferior do claustro foram removidos das paredes e reassentados em placas cimentícias. Já os que representam a Via Sacra, que ficam aos fundos da igreja, também foram removidos e reassentados utilizando a mesma técnica. Os painéis do claustro superior, por sua vez, sofreram restaurações parciais. Além disso, também foi realizada a limpeza das colunas e arcos, bem como rebocos e pinturas das partes superiores dos painéis. Em fevereiro de 2023 a obra foi concluída e entregue aos franciscanos pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Durante o período da restauração (2020 a 2023), o claustro do convento esteve fechado para visitas turísticas. Os visitantes tinham acesso apenas à igreja de São Francisco.
Os frades do convento, juntamente com os seus colaboradores, realizaram uma bênção especial para reabrir o claustro para visitação. Na manhã do dia 13 de fevereiro de 2023, em frente à Sala Capitular, Frei Pedro Júnior, OFM, guardião da fraternidade, presidiu a bênção e relembrou a importância daquele momento. Segundo ele, abençoar imóveis novos, carros, chaves e objetos religiosos fazem parte da fé do povo, uma vez que é sinal de gratidão a Deus pelas conquistas, não podendo ser diferente entre os franciscanos.
Concluir mais essa etapa importante de mantenimento da história dos franciscanos no Brasil é motivo de dádiva. Afinal, neste convento habitou e passou inúmeras pessoas que contribuíram para a fé, cultura e desenvolvimento social do povo brasileiro. O espírito de oração que permeou aquele momento, deu um maior sentido e importância àquilo que foi realizado no claustro. Ao final da celebração, Frei Pedro, os demais frades e colaboradores percorreram todo o local cantando e aspergindo os painéis restaurados.
Após a bênção, o claustro foi reaberto e recebeu os primeiros visitantes. É interessante ressaltar a alegria dos funcionários, guias de turismo e dos visitantes em ver o espaço acessível novamente à visitação.
Mais uma vez o espaço está aberto e nele todos os visitantes terão a oportunidade de fazer uma verdadeira imersão na arte, cultura, história, filosofia, teologia e na espiritualidade franciscana. Para conhecer o convento São Francisco, o visitante paga uma taxa de R$ 10,00, que é empregada na manutenção do espaço cultural e religioso. Os franciscanos seguem na busca de realizar novos projetos a fim de angariar recursos para a restauração de outras obras, necessárias para manter a igreja e o convento.
Fonte: Frei Lorrane Clementino, OFM