Fraternidade, um rosto do Deus comunhão
Francisco é um homem de profunda relação com a Santíssima Trindade. A sua relação com Deus Pai, era permeada por seu seguimento ao Cristo pobre e crucificado por meio da ação do Espírito Santo, Ministro Geral da Ordem.
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11.06.2022 11:42:30 | 4 minutos de leitura

Francisco acentuou o aspecto da vida fraterna em uma época marcada pela divisão de classes, de grupos e de guerras constantes entre cidades separadas, e foi a fraternidade que fez com que o mesmo descobrisse a vontade de Deus para sua missão e chamou muitos homens e mulheres para também assumir esta forma de vida. Ao comtemplar esta dimensão fraterna intuída na vida de Francisco podemos, ao mesmo tempo, comtemplar um aspecto muito próprio da Trindade, que é o modelo de perfeita comunhão. Vemos no Evangelho de João vários discursos de Jesus mostrando a unidade existente entre Ele e o Pai e a comunicação por meio do Espírito Santo. O que acaba se tornando de difícil compreensão para nós hoje, para Francisco estava muito claro e presente em seus escritos como, por exemplo, na Carta aos Fiéis: “Como é honroso ter no céu um Pai Santo e Grandioso! Como é Santo ter tal Esposo, Consolador, Belo e Admirável! Como é Santo e amável ter tal Irmão e um Filho agradável, humilde, pacífico, doce, amável e, sobre todas as coisas, desejável: Nosso Senhor Jesus Cristo que entregou sua vida por suas ovelhas!” Ao longo da história, na construção de tratados e reflexões a cerca da Trindade, a Escola Franciscana acompanhou, conseguindo ter como base outros autores e pensadores que discursaram a cerca deste tema. "A teologia trinitária franciscana, em seu aspecto teórico remonta, por uma parte, a Agostinho e, por outra, a Ricardo de São Vitor. Agostinho, em sua obra A Trindade, fixa seus olhos de águia no mistério abissal de Deus e descobre que a Trindade é uma comunhão de amor. "Quando se chegou à caridade, que foi chamada Deus nas Sagradas Escrituras, o mistério se aclarou um pouco com a Trindade do Amante, do Amado e do Amor" (AGOSTINHO, La Trinidad, 1.15, c. 6, n.(PL42, 1064; BAC, Madrid 1985, V, 710). Agostinho descobre a imagem da Trindade no homem, constituída pelo Espírito, pelo conhecimento com que se conhece e pelo amor com que se ama. Mas enquanto no homem o conhecimento com que ele se conhece e o amor com que ele se ama não são pessoas, em contrapartida em Deus o Pensamento e o Amor são Pessoas, da mesma natureza que o Princípio do qual perderam originalmente." (Manual de Teologia Franciscana )
A dinâmica do amor que encontramos nas formulações a cerca da Santíssima Trindade e que foi a experiência perpetuada desde Francisco, transborda e torna para nós modelo de fraternidade e comunhão. O Sumo Bem, o unido Deus a quem Francisco se comunicou em várias de suas orações e escritos, mostra a unidade da Trindade que por tanto amar se torna um. Este modelo de Deus comunidade era vivo e real nas ações e na vida do Pai seráfico que inclusive entendeu que sua fraternidade só seria perfeita e completa quando recebêssemos os dons e a vida do outro, amando-os e acolhendo-os. Pois esta dimensão trinitária na fraternidade não poderia ser entendida a a partir de uma uniformidade, mas de uma unidade também a a partir das diferenças. Francisco conseguiu identificar e buscava em sua vida uma relação intima com Deus Pai que o movia e levava a compreender a sua missão por meio de Cristo que se encarnou na pobreza do presépio de Belém, morreu na cruz e permanece conosco em uma humilde forma de pão, no Espírito Santo na qual os frades “devem desejar possuir o Espírito do Senhor e seu santo modo de operar” (RB, VIII,9) O modelo de Deus comunidade ficou expresso na fraternidade de Francisco, na sua relação com os seus primeiros companheiros e deve ser presente em nossa forma de vida e missão também hoje, para que o mundo se entenda cada vez mais como um lugar de fraternidade e de amor. Este modelo trinitário deve perpassar nossa forma de vida. É preciso que hoje façamos o movimento indicado pelo Papa Francisco para "acolher a Deus-Amor, acolher este Deus-Amor que se doa em Cristo, que nos move no Espírito Santo; deixar-se encontrar por Ele e confiar n’Ele." para que assim o mundo seja salvo e recriado.
"A teologia trinitária franciscana, em seu aspecto teórico remonta, por uma parte, a Agostinho e, por outra, a Ricardo de São Vitor. Agostinho, em sua obra A Trindade, fixa seus olhos de águia no mistério abissal de Deus e descobre que a Trindade é uma comunhão de amor. "Quando se chegou à caridade, que foi chamada Deus nas Sagradas Escrituras, o mistério se aclarou um pouco com a Trindade do Amante, do Amado e do Amor" (AGOSTINHO, La Trinidad, 1.15, c. 6, n.(PL42, 1064; BAC, Madrid 1985, V, 710). Agostinho descobre a imagem da Trindade no homem, constituída pelo Espírito, pelo conhecimento com que se conhece e pelo amor com que se ama. Mas enquanto no homem o conhecimento com que ele se conhece e o amor com que ele se ama não são pessoas, em contrapartida em Deus o Pensamento e o Amor são Pessoas, da mesma natureza que o Princípio do qual perderam originalmente." (Manual de Teologia Franciscana )
Imagem: A Trindade Misericordiosa. A escultura da Irmã Caritas Müller está numa casa de oração na Alemanha