Grito dos Excluídos, legado de São Francisco
Confira abaixo um Artigo preparado por Frei Aloísio Fragoso que traz uma reflexão a cerca do Grito dos Excluidos que acontece em todo o Brasil a 28 anos e traz traços fortes do Carisma Franciscano
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07.09.2022 07:37:26 | 3 minutos de leitura

Desde o ano de 1995, por iniciativa da CNBB, celebra-se uma alternativa festiva na comemoração do dia da pátria. É o "Grito dos Excluídos". O próprio título sugere, por si mesmo, o seu propósito. Uma pátria não se define pelos seus encantos naturais ou pelos seus símbolos convencionais. Uma pátria é antes de tudo o povo que nela habita e trabalha e luta e sofre e ama e cumpre seu destino coletivo. Daí, enquanto seu povo não desfrutar, equitativamente, de suas riquezas, não se pode dizer que temos um Brasil independente.
Nós franciscanos somos herdeiros de um Movimento histórico que, na sua origem, foi um verdadeiro Grito de Excluídos. Ele teve início quando o jovem Francisco se desnudou em público perante seu pai, seu bispo, seus conterrâneos, e, a seguir mudou o seu lugar social, da burguesia nascente para o meio dos indigentes. O preço desta ousadia foi ele mesmo tornar-se um excluído.
Certo dia o cardeal Hugolino insistiu para que ele adotasse uma das regras monásticas tradicionais. Francisco disse não e acrescentou: "O Senhor ne chamou a ser um novo louco no mundo".
Ao assumir a sua loucura como inspiração divina, Francisco passa um atestado de autenticidade ("o que o mundo reputa como loucura, Deus transforma em sabedoria para confundir os que se fazem passar por sábios" 1Cor. 1,27)
O "Grito dos Excluídos" que sairá às ruas nets dia 7 de setembro encerra características do franciscanismo original. Não é um grito de revolta e frustração e sim de esperança fundada na Fé e comprovada na História da Salvação ("eu ouvi os clamores do meu povo" cf. Ex.3,7). Antes de sair pelas bocas, ele nasce das consciências e chega aos corações e mentes, convertendo-se em sentimentos e reflexões. Ele não começa e termina no seu próprio eco, sua validade se confirma na ação prática contínua e renovadora. Por conseguinte, trata-se de um grito de lucidez e de amor. Gritamos porque temos razão e sabemos onde se encontram as causas da exclusão. Gritamos porque amamos; se não amássemos ficaríamos calados, sossegados em nossa zona de conforto.
Mas não gritamos sozinhos. O Filho de Deus grita conosco na Cruz do Calvário: "tenho sede!" Era Dele também a sede de milhões de irmãos e irmãs de todos os tempos: sede de paz, fome de pão.
Estes são motivos de sobra que interpelam nossa consciência franciscana: onde estaremos e o que estaremos fazendo enquanto o próximo Grito dos Excluídos percorre as ruas da cidade?
Fonte: Frei Aloísio Fragoso, OFM
Fotógrafo: Frei Lorrane Clementino, OFM