Na Missa do Envio, Frei Massimo lembra: A memória do carisma como Frades Menores é uma fonte do futuro
Os últimos dias da Assembleia da UCLAF em São Paulo foram movimentados com temas em relação a Proteção dos menores, Economia e a Missa de Envio presidida pelo Ministro Geral refletindo sobre a memória como um fonte para o futuro.
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28.01.2023 22:06:35 | 14 minutos de leitura

O Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Massimo Fusarelli, presidiu a Missa do Envio no último dia (27/01) da Assembleia Geral da União das Conferências Latino-americanas Franciscanas (UCLAF), que desde a última segunda-feira reuniu no Convento São Francisco, no centro de São Paulo, os Ministros Provinciais e Custódios da Conferência Franciscana do México, América Central, Panamá e Haiti; da Conferência Franciscana do Brasil e Cone Sul; e da Conferência Franciscana Bolivariana, com o Ministro Geral e seu Definitório.
“Construindo o Caminho Sinodal como Frades Menores”. O tema fez parte de todas as reflexões e assuntos desta 27ª Assembleia Geral da UCLAF, que celebra 55 anos de fundação na América Latina e 500 anos da presença franciscana no México, não perdendo de vista o Centenário Franciscano, que neste ano celebra os 800 anos da Regra Bulada e o Natal de Greccio. “Agradecemos ao Senhor pelo caminho de nossa família na América Latina ao longo destes anos! Isto é o que sentimos e experimentamos durante estes dias de convivência e partilha. Mais uma vez nesta Eucaristia fomos alcançados pelo dom sublime de uma Palavra antiga e todos os dias surpreendentemente nova! É o próprio Jesus que nos fala hoje em Lc 24,44, e nos fala de coisas que devem ser “cumpridas”. O passado e o futuro se encontram num presente”, agradeceu Frei Massimo.
Segundo o Ministro Geral, a “memória” evangélica não é apenas a atualização do passado, mas a fonte do futuro! “A memória do nosso carisma como Frades Menores, que o Centenário Franciscano nos ajuda a revisitar, é uma fonte do futuro. Somos chamados a um esforço mais intenso para ouvir o Senhor neste tempo, para que o carisma possa ser expresso aqui e agora na América Latina, em sua ampla diversidade”, orientou o Ministro Geral.
Para Frei Massimo, o Evangelho de Lucas nos fala da Páscoa de Jesus, que é o final de um tempo antigo e é tempo da ressurreição: é o tempo novo e definitivo. É no poder da Páscoa que, em nome de Jesus, “a conversão e o perdão dos pecados serão pregados a todos os povos, começando por Jerusalém” (v.47).
Frei Massimo continuou sua exortação animando os frades no retorno a suas terras de origem: “O Ressuscitado fala a nós, seus discípulos: ‘Disso sois testemunhas” (v.48). O nosso testemunho e evangelização tornam presentes o cumprimento do Evangelho do Senhor em nosso tempo. Tornam presentes seu poder vivificador. Antes de ser uma ideia, a missão é a transparência da presença e do poder do Senhor. Não podemos fazê-lo com a nossa pequena e pobre força: ‘E eis que eu envio aquele que meu Pai prometeu, mas vós permanecereis na cidade até vos revestirdes com o poder do alto’ (v.49)”, disse.
E continuou: “Permaneçamos vigilantes na invocação deste poder do alto, para que o Espírito do Senhor e a seu santo modo de operar possam agir em nós. São Francisco nos envia em missão: LM III, 7: FF 1059 ‘Vão’, disse o Pai mansamente aos seus filhos, ‘proclamem a paz aos homens; preguem a penitência para a remissão dos pecados’. Sejam pacientes nas tribulações, vigilantes na oração, corajosos no trabalho, modestos na fala, sérios na conduta, e gratos pelos benefícios. Em recompensa de tudo isto, o reino eterno foi preparado para vós”, orientou.
“Aqueles que se ajoelharam humildemente perante o servo de Deus aceitaram a missão da santa obediência com íntima alegria. Então, ele disse a cada um em particular: ‘Confiai o vosso destino ao Senhor, e ele vos alimentará. Estas foram as palavras que ele costumava repetir quando designava um irmão para uma missão de obediência. Dividiu-os dois a dois, em forma de cruz, enviando-os para o mundo. Depois de atribuir as outras três partes às outras seis, ele próprio foi com um companheiro a uma parte do mundo, sabendo muito bem que tinha sido escolhido como exemplo para os outros e que devia primeiro agir e depois ensinar"”, encerrou Frei Massimo, desejando a todos: “Boa viagem, irmãos, com a proximidade maternal e a bênção de Francisco!”.
No final da Celebração Eucarística, Frei Massimo e Frei César Külkamp entregaram a Regra de São Francisco, que neste ano celebra 800 anos de sua aprovação, e um Tau a cada frade participante da Assembleia.
Frei Massimo viaja nesta madrugada para Lima, no Peru, onde vai visitar os frades peruanos e retorna para o Brasil, chegando na segunda-feira no Rio de Janeiro. Dali, ele sobe a serra até Petrópolis (RJ), para se encontrar com os frades da formação permanente e do tempo de Teologia. Depois visita o Espírito Santo, onde se encontrará com os frades do Regional no Santuário do Divino Espírito Santo. Dali, ele segue para Curitiba (PR), onde se encontrará com os frades deste Regional e depois viaja até Rodeio (SC), onde está o Noviciado da Província. Ali se encontra com os frades de dois Regionais catarinenses. Na sexta-feira, dia 3, estará em São Paulo, para encontro com os frades deste Regional.
DOM ODÍLIO E FREI MASSIMO
O último dia foi de muitas reuniões. As Conferências do México, América Central, Panamá e Haiti e a Bolivariana se reuniram, separadamente, para estabelecer conclusões, acordos e compromissos por ocasião do de um caminho sinodal e da celebração do Centenário Franciscano e do Capítulo das Esteiras em 2025. Já a Conferência do Brasil e Cone Sul se reuniu com o Ministro Geral e o Definitório Geral. Por último foram votados e aprovados alguns pontos da agenda da UCLAF até a próxima assembleia. A Santa Missa de encerramento começou às 18h30.
Os frades também tiveram a grata surpresa de receber a visita do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, que conversou com participantes da UCLAF e almoçou com eles.
A UCLAF é um organismo de animação da Ordem dos Frades Menores que chega à marca histórica de 55 anos de existência. Nasceu motivada pelo impulso renovador do Concílio Vaticano II para promover a unidade e a busca de colaboração na vida e na missão da Ordem no contexto da América Latina. Em todos estes anos, ela tem buscado promover a colaboração em suas presenças evangelizadoras (históricos santuários, vicariatos, paróquias, educação, comunicação, trabalho social e iniciativas missionárias) e na formação a partir do carisma franciscano.
“Nossa vida como Frades Menores deve ser um apelo ao amor de Jesus”, exorta presidente da UCLAF
O quarto dia da Assembleia Geral da União das Conferências Latino-americanas Franciscanas (UCLAF), na última quinta-feira, 26 de janeiro, levou os frades, primeiro, à Capela do Convento São Francisco, no centro de São Paulo, para a oração das Laudes e para a Eucaristia. O presidente da UCLAF, Frei José Alírio Urbina Rodríguez, presidiu esses dois momentos na festa dos bispos da Igreja, São Timóteo e São Tito.
Segundo Frei José, neste contexto da XXVII Assembleia da UCLAF, a palavra do Senhor convida-nos e encoraja-nos na nossa missão cristã e, como Frades Menores, a continuar a pregar, anunciar, viver e testemunhar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Jesus não nos pede para sermos sensacionalistas ou praticarmos atitudes extraordinárias; ele nos pede para sermos seus seguidores, discípulos que dão testemunho da luz recebida do Senhor, que é o próprio Senhor”.
O Caminho Sinodal é o tema principal das Conferências da UCLAF neste encontro, visando renovar a visão e abraçar o o futuro a partir da identidade franciscana hoje em torno da realidade da América Latina, como comunhão e participação de todos os Irmãos neste contexto.
Para ele, nesta via sinodal, somos convidados a ouvir a Palavra, a ouvirmos uns aos outros no Caminho, a dar vida à pregação do Reino de Deus, vivendo as parábolas do Reino de Deus. “Então, como podemos fazer brilhar a luz na lâmpada ou no candeeiro? Porque não podemos nos esconder ou esconder o que recebemos do Senhor Jesus. A missão é receber e tornar conhecidas as suas palavras e a sua vida de amor, bondade e misericórdia. Não podemos esconder o amor recebido do Senhor Jesus, por isso a nossa vida cristã e a nossa vida como Frades Menores deve ser um apelo ao seu amor, misericórdia e bondade através de nossa vida”, exortou.
“Tomando as palavras do Evangelho de São Marcos: A nossa missão é tornar conhecido o Reino de Deus a partir do encontro com o Senhor Jesus Cristo, de amor, misericórdia e bondade com Ele e com os irmãos e irmãs concretos das nossas fraternidades e dos que nos rodeiam. Sabemos que há muitas provocações ou tentações de cansaço, medo, timidez, por vezes favorecendo o nosso conforto ou preguiça que não nos permite avançar, por isso lhes convido a fazer nossas as seguintes palavras de Paulo a Timóteo: em 2Tm 1,7 ‘Porque o Senhor não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, caridade e temperança’. Isso ajuda a superar a tentação de deixar a missão que nos foi confiada, como o Papa Francisco a expressa ‘… de uma vida de testemunho para que a luz brilhe, que é Cristo, o Senhor’”, continuou o presidente da UCLAF.
“Irmãos da UCLAF, todos nós recebemos a luz que é Cristo. Ele guia os nossos passos na escuta, discernimento e decisões fraternais neste contexto da América Latina. Caminhando juntos como Frades Menores, podemos iluminar outros irmãos e pessoas que querem sair da escuridão do medo, da desesperança ou da indiferença. Sempre ajudados, fortalecidos e a caminho como os Frades Menores que caminham juntos, como Paulo novamente expressa a Timóteo: 2Tm 1,8 ‘…suportai comigo os sofrimentos por causa do Evangelho, ajudado pelo poder do Evangelho de Deus’. Não desanimemos, não tenhamos vergonha, não tenhamos medo, não confiemos em nossa própria força, não confiemos no que já fizemos…. Coloquemo-nos na presença do Senhor para darmos testemunho com as nossas vidas e as palavras que nos animam nesta Assembleia da UCLAF: continuemos a ‘Construir o Caminho Sinodal como Frades Menores"”, completou.
PROTEÇÃO DE MENORES E ADULTOS VULNERÁVEIS
O Definidor Geral, Frei Albert Schmucki, abriu os trabalhos neste quarto dia da Assembleia Geral, abordando o tema de proteção dos menores e pessoas vulneráveis. Segundo o Documento Final do Capítulo Geral de 2021, é “obrigação de todos os frades e Entidades da Ordem de cooperar plenamente na prevenção, denúncia e colaboração com todas as autoridades civis e eclesiásticas competentes na tarefa de garantir justiça e transparência no tratamento das denúncias de abuso em toda a Ordem”. Durante este Capítulo Geral, foi criada a Comissão de Proteção – que já vinha sendo estudada no governo anterior -, tendo em vista também ass Diretrizes para a Proteção dos Menores e das Pessoas Vulneráveis, definidas pelo Papa Francisco em 26 de março de 2019.
Na sua apresentação, Frei Albert, que é psicólogo, professor na Universidades Gregoriana e Antonianum, contou que seis frades da UCLAF fazem o Curso sobre Tutela, chamado de Diplomado, na Universidade Gregoriana. Com isso, esses frades (pelo Brasil, participa Frei Wanderley Gomes de Figueiredo) se tornam, nas suas Conferências, pessoas de referência, ligadas a esse Escritório da Ordem para ajudar neste trabalho. Frei Albert coordenou o programa de formadores da Ordem e agora é o responsável pelo Escritório de Proteção.
Cada Província foi provocada, por uma determinação do Papa Francisco, a elaborar diretrizes para a prevenção de abusos, criando ambientes seguros nos locais onde vivem e atuam. “Um aspecto é a prevenção, o outro é a escuta e acompanhamento de possíveis vítimas que já tenham sofrido abusos nos nossos ambientes. Depois também outro aspecto é a criação de um espaço, uma comissão, que possa receber denúncias, ouvir vítimas e dar os devidos encaminhamentos”, explica Frei César Külkamp, Definidor Geral para a América Latina. Hoje, se acontece um abuso com uma pessoa menor, a política do Vaticano é zero e o religioso deve ser excluído do instituto. No caso de colaboradores, voluntários etc, a política também seria zero no caso de menores.
O Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, é enfático na transparência e condução dessa questão. “Muitas Províncias ainda têm uma resistência em fazer processos de investigação e encaminhar para as devidas instâncias. E isso tem uma implicação direta na pessoa do Ministro Geral e nos Ministros Provinciais ou Custódios. A responsabilidade é automática. Quer dizer, a Igreja também tem uma política de tolerância zero para esses casos. Se um bispo, um ordinário, que é o Provincial ou Ministro Geral, não assumem ou não fazem o devido processo, são considerados culpados de participação no próprio ato, podemos dizer assim genericamente. Hoje, a Igreja tem tomado uma posição muito incisiva, como o Papa mesmo pede, de tornar todos os ambientes seguros para crianças e pessoas vulneráveis. Assim também é a política da Ordem”, acrescenta Frei César.
ECONOMIA A SERVIÇO DO CARISMA E DA MISSÃO
O Definidor Provincial da Província da Imaculada Conceição, Frei Robson Luiz Scudela, que também é ecônomo, falou nesta quinta-feira sobre o uso responsável e social dos bens da Igreja.
Contextualizando, Frei Robson lembra que o atual momento histórico chama a vida consagrada para avaliar-se ante uma difundida queda das vocações e uma contínua crise econômica. “A crise obriga-nos a projetar de novo o nosso caminho, a impor-nos regras novas e encontrar novas formas de empenhamento, a apostar em experiências positivas e rejeitar as negativas”, avalia o frade.
Segundo ele, os Institutos de vida consagrada são chamados a ser bons administradores dos carismas recebidos do Espírito também por meio da gestão e da administração dos bens.
A dimensão econômica está intimamente conexa com a pessoa e a missão. Para o frade, através da economia passam as escolhas relevantes para a vida pessoal e coletiva, nas quais deve transparecer o testemunho evangélico, atenta às necessidades dos irmãos e das irmãs.
“Os consagrados escolhem a profecia e se subtraem à ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. A sua pobreza recorda a todos a urgência de libertar-se da economia da exclusão e da iniquidade, porque esta economia mata. Dessa economia teve início a cultura do ‘descartável”, lembrou Frei Robson.
Para o frade, é indispensável redescobrir uma economia de rosto humano, na qual o homem e o seu verdadeiro bem não percam jamais a centralidade. “As relações fraternas, fundadas na estima sincera e na confiança recíproca, tornam-se, assim, recursos preciosos para a gestão”, observa. Mas ele lembra que em alguns casos, ao contrário, são confiadas à responsabilidade de indivíduos, sem prever para eles momentos sistemáticos de comparação e verificação. Estes podem levar a uma personalização da gestão. “Trata-se de dissociar-se da ideologia do homo oeconomicus, insaciável no seu desejo dos bens, cujas escolhas são determinadas pela maximalização do interesse pessoal e de relançar o desafio do homo fraternus, que não se cansa jamais de escolher a fraternidade”, acentua.
Segundo o frade, é necessário recordar que entre carisma e gestão dos bens não existe contradição; gerir segundo critérios econômicos não sufoca o carisma, mas permite perseguir e realizar objetivos partilhados. A vida consagrada oferece, assim, ao mundo, um testemunho evangélico”, completou.
Os frades aprovaram os novos Estatutos da UCLAF. Um diálogo com o Governo Geral e os Ministros e Custódios da UCLAF concluiu os trabalhos deste dia.



Fonte: Equipe de Comunicação da UCLAF