O Reino de Deus e a promoção da Dignidade Humana.

Frei João Pedro apresenta uma reflexão rendo como base o Documento de Aparecida sobre o Reino de Deus como um lugar para promoção da Dignidade do ser humani.

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10.06.2022 20:50:27 | 1 minutos de leitura

O Reino de Deus e a promoção da Dignidade Humana.

O Documento de Aparecida realizado em maio de 2007, por ocasião da V Conferência Geral do Episcopado Latino – Americano e do Caribe, nos chama a reflexão e tomada de atitude para a realidade que vivemos, ao mesmo tempo, nos provoca acerca da missão e do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo, que tem como fim universal, chegar ao coração de todos os homens e mulheres de boa vontade, ambos, imagem e semelhança do Deus Criador. O mandado do Messias, que é a Caridade perfeita, obra do Espírito Santo, alcança todas as dimensões da existência humana, bem como todos os ambientes e situações da vida, ultrapassando todos os povos e culturas. Ele, não faz acepção de pessoas, antes ama e cuida como “Bom Pastor, dando a vida por suas ovelhas”. Desse modo, nada no que se refere ao humano pode lhe causar estranheza.

A Igreja, enquanto Mãe e Mestra, sabe e ensina com voz profética, que toda revelação e experiencia de fé tem como base a pessoa de Jesus Cristo. Ele, é a resposta verdadeira para todos os questionamentos e problemas humanos. Por isso, o homem sente no coração o desejo de liberdade, justiça e felicidade. Aquele que foi criado por Deus anseia pelos mesmos sentimentos do seu Criador, afinal, o homem é imagem e semelhança de Deus. 

O documento cita, uma voz forte ecoa em nossos ouvidos. “O Reino de Deus está chegando”. Essa Palavra é bem atual através do agir do Espírito, pois, o próprio Cristo como força transformadora, continua suscitando discípulos e missionários para o Reino de Deus no mundo atual. A partir desse anúncio, somos convocados a conformar nossa vida com a vida de Cristo, dentro da realidade que vivemos, mostrando através das nossas ações que é possível transformar nossa sociedade a partir do Reino de Deus, dando dignidade e direito, mas também deveres aos cidadãos, vivendo no fundamento do amor que é o próprio Jesus Cristo.

Ainda nesse aspecto, percebemos os sinais da presença de Deus. Em primeiro lugar está a experiencia pessoal com o Cristo ressuscitado, ao mesmo tempo, a experiência comunitária, uma vez que experienciamos a pessoa de Jesus, não conseguimos somente reter para nós, mas também para o outro. Do contrário se tornará uma experencia morta. De fato, quem conhece Jesus Cristo, vive a vontade do Pai, na evangelização para com os pobres, o amor fraterno, o perdão e a paz, respeitando as diversas realidades, sejam elas, religiosas, como também sociais, lutando pela justiça e igualdade de todos.

Tornando-me discípulo e missionário de Jesus Cristo, assumo o compromisso com o Reino, dando prioridade para algumas causas, como a promoção a dignidade da pessoa humana, construindo o diálogo com as diversas realidades, sejam elas, políticas, sociais, ecumênicas, nacionais e internacionais, como o texto nos chama a atenção. Tendo presente nas ações o amor e a misericórdia para com aqueles que estão a margem da sociedade. 

Um ponto importante é a misericórdia, muitas vezes confundimos e acaba-se gerando um círculo vicioso, como o próprio documento cita: “Toda obra de caridade e misericórdia deve estar alicerçada na verdadeira justiça social”. A Igreja com boca de Deus, deve anunciar, denunciar e ensinar através da pregação, o amor, a justiça e a solidariedade, desenvolvendo frutos e valores espirituais, morais e sociais, tendo em vista um mundo melhor. Ainda, a Santa Igreja de Deus tem como objetivo, através da evangelização, anunciar Jesus Cristo, não só com palavras, mas com obras, seguindo o exemplo do seu esposo. Também, todo batizado que deseja seguir o Mestre deve testemunhar seu Senhor pelas práticas, pois é assim que se conhece o verdadeiro discípulo e missionário. Vivemos num mundo, onde a cultura que é propagada é totalmente contrária a dignidade do ser humano, principalmente tratando as pessoas como objeto, não como elas são. Diante de tal realidade que nos assola, queremos ressaltar que cada ser humano tem sua dignidade, onde o próprio Jesus Cristo foi quem as deu! 

Desse modo, nossa adesão a Cristo, exige uma postura diante do mundo atual, seja na realidade pública ou privada, em todas as instâncias da vida. Defender o ser humano e sua dignidade é nossa missão, basta olharmos a missão de Jesus. Dentro desse âmbito, encontra-se tantos latino-americanos, homens e mulheres refugiados, que ainda não levam uma vida digna. Um ponto importante que marca a Igreja Latino-Americana e Caribenha, é a opção preferencial pelos pobres. Tal opção, está cristologicamente fundada no Cristo que se fez pobre por nós, para assim nos dar dignidade.

Por isso, o cristão é chamado a contemplar o rosto de Cristo em cada irmão e irmã pobre e marginalizado, como cita o próprio documento. Por meio da experiencia com Jesus Cristo brota o desejo em nosso coração da solidariedade, como também da compaixão, ou seja, sentir com o coração e consequentemente ir ao encontro dos nossos irmãos, sejam quais forem as situações. Uma vez que somos chamados a trabalhar com nossa Igreja Latino – Americana e Caribenha, nos comprometemos com os demais irmãos pobres, inclusive até a morte se preciso for. Sabemos que todo compromisso tem consequências e exige de nós coragem e ousadia para atravessar e romper as estruturas. Como diz a canção: “comungar é tornar-se um perigo viemos pra incomodar”.
 
Compromisso requer de nós proximidade, desse modo, é importante que sejamos amigos dos pobres de nosso tempo. E podemos fazer essa pergunta. Quem são os pobres de hoje? Que tipo de pobreza temos hoje? Dentro dessa realidade, compartilhamos com eles a defesa de seus direitos, mas também o compromisso com seus deveres. Assim nos fala o documento de Aparecida. Ressalto ainda, a importância da pastoral social, tendo em vista a promoção humana integral e uma autentica libertação. Sem esse movimento é impossível haver ordem justa na sociedade. Gosto sempre de repetir: tudo isso acontece a partir do encontro pessoal com Cristo, ele é o sentido de toda renovação.

Cada conferência episcopal bem como as Igrejas, tem a missão de renovar e fortalecer a pastoral social, com a assistência e promoção humana. Devemos somar forças, pois, muitos irmãos e irmãs se encontram em diversas situações, tais como: vítimas de violência, refugiados, desaparecidos, enfermos de HIV, toxico – dependentes, pornografia, violência, trabalho infantil, desempregados, exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes e etc. Com a ajuda de várias entidades a Igreja a partir de uma visão e leitura cristã, pode aproximar a pastoral da realidade atual, aproveitando a doutrina social da Igreja que sempre nos ajudou ao longo da caminhada. Nesse sentido, os nossos irmãos leigos podem nos ajudar, pois eles podem ir aonde muitas vezes o clero não pode chegar, assumindo vários papéis perante a sociedade. Dessa forma, encontra-se uma formação ética cristã que suscita o desafio visando o bem comum de todos, criando oportunidade para todos, lutando contra todas as formas de ideologias e corrupção, reconhecendo a dignidade e responsabilidade de todos. Desenvolvendo uma economia solidária e desenvolvimento integral reabilitando a ética política, envolvendo pessoas, empresas, governos e o próprio sistema atual.

Frei João Pedro, OFM

Imagem: Comunhão à Mesa, de João Batista Bezerra da Cruz
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