Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil celebra Capítulo das Esteiras

A espiritualidade franciscana resplandeceu em dias de profunda celebração no Capítulo das Esteiras da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil. De 14 a 17 de novembro, o Convento Ipuarana, em Lagoa Seca, Paraíba, foi sede de um encontro onde a fé, a fraternidade e o carisma de São Francisco se entrelaçaram em um abraço de luz e esperança.

Mais de 80 participantes – entre frades, leigos, religiosas – vindos de todos os territórios da Província, se uniram para momentos de reflexão, celebração e partilha, em um encontro que entrelaça o carisma franciscano com os desafios contemporâneos de uma sociedade em constante transformação.  

Enraizado na simplicidade e na fraternidade, o Capítulo das Esteiras surge como um momento único para renovar nosso compromisso de sermos verdadeiros irmãos e irmãs menores. Este evento se destaca como um marco no itinerário jubilar da Família Franciscana, convocado pelo Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, OFM, para acontecer em todas as entidades franciscanas ao redor do mundo. Por meio deste encontro fraterno, somos convidados a uma profunda reflexão e celebração do carisma que nos une, renovando nosso compromisso e fortalecendo nossa missão junto às comunidades onde caminhamos como irmãos e irmãs na fé.

O encontro foi guiado pela temática da sinodalidade, um chamado que transcende fronteiras e inspira uma caminhada conjunta, com foco no fortalecimento da missão da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil. A programação foi marcada em um mosaico de espiritualidade e diálogo: orações comunitárias, palestras, rodas de conversa e trabalhos em grupo criam um espaço de escuta e comunhão, iluminado pela esperança e pela missão compartilhada. 

Raízes do Capítulo das Esteiras

O Capítulo das Esteiras remonta ao próprio São Francisco de Assis, que em 1221 reuniu frades em Santa Maria dos Anjos, Assis. Na simplicidade das esteiras de palha que cobriam o chão, eles vivenciaram intensos momentos de oração e planejamento das missões, fortalecendo o espírito de fraternidade. 800 anos depois, a tradição franciscana continua a evocar o Capítulo das Esteiras, que é caracterizado por sua identidade celebrativa e da presença dos diversos membros da Família Franciscana. 

Dom Beto Breis, frade franciscano e arcebispo de Maceió que esteve presente durante o Capítulo, refletiu sobre a profunda relação entre a sinodalidade e a fraternidade na tradição franciscana. “O movimento franciscano assinalou de fato o experimento sinodal. São Francisco fazia questão de que os Capítulos fossem realizados em Pentecostes, sendo o ministro geral da Fraternidade o Espírito Santo. E como nos diz o Papa Francisco, sem o Espírito Santo, não há sinodalidade.”, pontua. 

Ao longo dos séculos, essa tradição tem reafirmado a identidade franciscana, celebrando a comunhão e a simplicidade. Hoje, o Capítulo das Esteiras mantém seu significado como símbolo de um carisma vivo, refletindo sobre missão, fraternidade e os desafios do tempo presente.  

“O Capítulo das Esteiras é pensado como um momento especial de convivência, partilha de vida e revigoramento do nosso amor fraterno e espiritualidade”, explica Frei Wellington Buarque, Secretário Geral do Capítulo. “Diferente de outros capítulos franciscanos, este não possui caráter eletivo, mas promove um espaço de encontro e renovação espiritual.“

Reflexões e diálogos sobre a missão franciscana

Este encontro iniciou-se ainda na quinta-feira à noite, onde os diversos peregrinos, se achegaram ao Convento Ipuarana, fundado em 1940 como Colégio Apostólico e formou gerações de frades menores que atuam nas diversas realidades do nordeste brasileiro. Hoje o espaço que fica situado no coração do Provincial é referência como ponto de encontro para as mais diversas iniciativas de espiritualidade. A abertura do evento foi marcada pela oração do Ofício Divino das Comunidades, momento de profunda espiritualidade, seguido pelas calorosas boas-vindas aos presentes.

Na sexta-feira, o encontro teve início com a celebração da Eucaristia, presidida por Dom Frei Beto Breis. Em sua reflexão, ele destacou a sinodalidade como essência da vivência franciscana fazendo um resgate desta presença e das origens da espiritualidade para iluminar os trabalhos que iriam ser iniciados. “Com alegria, participo do Capítulo das Esteiras, um encontro com uma característica muito especial: a presença de representantes das fraternidades dos Frades Menores desta Província, além de religiosas de vida contemplativa do carisma franciscano – como as Clarissas e as Irmãs Concepcionistas –, representantes dos religiosos da Ordem Terceira Regular, membros da Família Franciscana, e também leigos e leigas da Ordem Franciscana Secular e da Juventude Franciscana. Juntos, somam-se ainda leigos de paróquias e comunidades onde os frades estão presentes, unidos para rezar e refletir sobre a importância do caminho sinodal, tão enfatizado pelo Papa Francisco.”, partilha.  

Dom Beto, refletiu sobre a alegria da espiritualidade franciscana que nasce do encontro, da sinodalidade refletida neste Capítulo. “Encontramo-nos na alegria do Evangelho, como nos convida o Papa Francisco, e, ao mesmo tempo, a fraternidade se reúne à mesa, na comensalidade. A sinodalidade, na vida franciscana, manifesta-se em sermos fraternidades em missão, fraternidades itinerantes. Não há oposição ou tensão entre fraternidade e missão; pelo contrário, elas se complementam. Afinal, a fraternidade é o primeiro e mais crível anúncio do Evangelho – e é a partir do Evangelho que se evangeliza.”, destaca   

Durante a tarde, os participantes se dividiram em grupos temáticos para discutir como frades, leigos, religiosas e postulantes podem contribuir para o fortalecimento da missão franciscana no contexto nordestino.  

À noite, uma mesa-redonda mediada por Frei Wellington reuniu lideranças franciscanas como Frei Rogério Lopes, Frei Gilmar Nascimento, Helmir (Secretário da OFS Nacional) e Ir. Maria Beatriz das Concepcionistas. A conversa trouxe à tona a importância do diálogo com as juventudes e a sinergia entre os diversos estados de vida, buscando ampliar o carisma franciscano. 

Presenças que inspiram e fortalecem

Entre os participantes, as Irmãs Concepcionistas e Clarissas marcaram o encontro com sua espiritualidade contemplativa. Seu testemunho recorda que a missão nasce de corações voltados para Deus, nutridos pela oração. Irmã Anna Beatriz, OSC compartilha a sua experiência de participação como muito rica. “Uma vivência que alimenta em nós o senso de pertença e a consciência de sermos todos irmãos. É emocionante perceber a beleza da nossa Família Franciscana, onde partilhamos relações fraternas, experiências, orações e missão com nossos irmãos. Nós, irmãs contemplativas, que fazemos parte desse mesmo carisma e família, contribuímos especialmente por meio do testemunho de fraternidade, acolhida, escuta e, acima de tudo, da oração. Nossa oração sustenta a missão. É ela que nos dá a certeza e a segurança de que nossa família será sempre bem-sucedida em suas missões, graças à intercessão constante.”  

A Ordem Franciscana Secular foi uma presença marcante neste Capítulo, como reflete Helmir Soares, de Trindade Pernambuco compartilha sobre o ressoar do encontro. “Para minha fraternidade da OFS, vou levar a alegria, a fraternidade e, sobretudo, o compromisso de viver em comunhão com a família franciscana.”

Romênia Moura, leiga da Paróquia São Francisco de Campina Grande reflete sobre o caminho trilhado até aqui. “Desde o processo local de reflexão e os preparativos para este momento, até estes dias em que estamos reunidos aqui, pudemos perceber que as nossas realidades são muito semelhantes às da Província. Compartilhamos não apenas desafios, mas também a esperança de que somos capazes de vivenciar e transmitir o carisma franciscano. Ao longo desse tempo, temos nos dedicado a divulgar e a ser expressão desse carisma que nos inspira profundamente. Não apenas em nossas pastorais, mas também no cotidiano de nossas vidas, buscamos refletir e transmitir os valores franciscanos com autenticidade e dedicação.”

Um chamado ao recomeço  

No sábado, as atividades foram norteadas pelo tema “Irmãos, vamos recomeçar!”, conduzido por Frei Aloísio Fragoso e Frei Marconi Lins. Em plenárias e grupos menores, os participantes refletiram sobre os desafios e possibilidades para a missão franciscana em tempos de mudança, assumindo compromissos renovados com o carisma franciscano. 

O domingo encerrou o encontro com a celebração da Santa Missa, presidida pelo Ministro Provincial, Frei Rogério Lopes, e também um momento de avaliação e síntese para futuras ações em âmbito internacional. O encontro resultou na criação de uma síntese com todas as reflexões feitas pelo grupo.  

Frei Wellington Buarque reflete sobre a experiência:  “O Capítulo das Esteiras é, para nós, um momento celebrativo e, ao mesmo tempo, indicativo da nossa missão. Desta vez, vivemos como família, ampliando nossa visão e trazendo as vozes de leigos e religiosas para iluminar a nossa caminhada. Foi um momento novo e de muito aprendizado.”  

O Capítulo das Esteiras, assim, reafirma seu papel como encontro de comunhão, revigorando o espírito de missão e oferecendo à Igreja e ao mundo um testemunho vivo de fraternidade.

Na finalização desta experiência fraterna do Monte Tabor, Frei Rogério Lopes, Ministro Provincial partilha a sua oração de "olhar o passado com gratidão, o presente com gratidão e o futuro com esperança. É importante que acima de tudo o que foi tratado e refletido retorne às nossas fraternidades através de todos, estando motivados. Esta é a prece que eu faço a Deus. A palavra é gratidão a cada um e a cada uma. Estejamos sempre com o olhar voltado para o Senhor com esperança. E de esperança em esperança o Reino de Deus vai acontecendo, a partir do nosso compromisso."