Quaresma: tempo de conversão

Com a Quarta feira de cinzas, damos início ao Tempo da Quaresma na Igreja, acompanhe uma reflexão de Frei Adriano Cézar de Oliveira, OFMCap que reflete sobre a mensagem deste tempo propício para conversão.

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22.02.2023 09:43:13 | 5 minutos de leitura

Quaresma: tempo de conversão

        A vivência do tempo quaresmal remonta ao século IV. A quaresma é o período do ano litúrgico que antecede as festividades da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Palavra de Deus proposta para reflexão nesse tempo vai nos conduzindo, pedagogicamente, para nosso interior, ao mais profundo, ao âmago da nossa consciência e, com isso, chama-nos à reflexão de nossas vivências e ações. 

        A simbologia do número 40, que está na origem da quaresma, é bíblica e relembra, entre outras passagens, os quarenta dias do dilúvio, os quarenta anos de exílio do povo de Deus, os quarenta anos da travessia do deserto, e os quarenta dias que Jesus passou no deserto, significa o tempo de uma travessia completa. A experiência de Jesus no deserto deve nos ensinar que a quaresma é tempo de conversão e tempo de afinarmos nosso ser com a vontade de Deus. 

        O itinerário quaresmal “chama os cristãos a encarnarem, de forma mais intensa e concreta, o mistério pascal na sua vida pessoal, familiar e social, particularmente através do jejum, da oração e da esmola.” Papa Francisco, sabiamente, exorta:

Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade.

        A experiência da oração, proposta como modelo pelo Papa Francisco, não pode ser vivenciada sem a experiência do recolhimento interior, o qual possibilita nossa presença em nós mesmos e o reconhecimento da verdade de nosso ser. O recolhimento do jejum, da oração e da esmola é interior, íntimo, discreto e afetivo. Não deve ser uma um estandarte carregado pela rua com o desejo de ser visto. 

Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. (...) Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que está jejuando, mas apenas ao Pai, que vê o secreto” (Cf. Mateus 6, 16-18). 

Voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo.” (Cf. Joel 12, 12-13). 

        Mergulhados na essência daquilo que é próprio da liturgia quaresmal devemos nos atentar para o verdadeiro sentido deste tempo para não cairmos nos excessos “espirituais” que vemos muitos cristãos cometerem, mais atentos as práticas exteriores em detrimento das práticas interiores. 

        Outra dimensão da quaresma é a vivência da misericórdia. Essa misericórdia de Deus se apresenta com suas exigências, quer de nós a disposição para acolhê-la e a disposição para anunciá-la, essa é uma exigência ética e solidária da nossa fé.  À medida que recebemos de Deus misericórdia, devemos também ser misericordiosos e atentos às práticas da justiça e da caridade cristãs.

O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, por em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? (Cf. Isaías, 58, 6-7).

        Francisco de Assis de Assis, além da quaresma proposta pela Igreja, a qual chama de “quaresma das quaresmas”, realiza também outras para aperfeiçoar-se ainda mais no seguimento de Jesus. São elas, a quaresma da Epifania (7 de Janeiro a 15 de Fevereiro); a quaresma da Ressurreição do Senhor (de Quarta-feira de Cinzas até à Páscoa); a quaresma de São Pedro e São Paulo, (de 20 de Maio a 29 de Junho); a quaresma da Assunção de Nossa Senhora (de 29 de Junho a 15 de Agosto); a quaresma de São Miguel Arcanjo (de 15 de Agosto a 29 de Setembro) e a quaresma do Advento ou da Encarnação (da Festa de Todos os Santos até o Natal). 

        A quaresma provoca-nos à misericórdia e à compaixão, é um tempo mais de cura do que de punição. O que em nós precisa de cura? Qual a misericórdia, que tendo recebido de Deus, estamos compartilhando com nosso próximo? Como está a dimensão da justiça em nossa vida e em nossa sociedade? Com a autenticidade que brota do coração somos convidados a um sincero exame de consciência e ao propósito de viver esse tempo com todo nosso coração, com toda nossa alma, com todo nosso entendimento e com toda nossa força. (Cf. Marcos 12, 30). 

Fonte: Frei Adriano Cézar de Oliveira, OFMCap
Imagem: PASCOM - Paróquia Nossa Senhora das Dores Fortaleza, CE
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