SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO: Ceia do Senhor

A partir da Quinta feira Santa com a celebração da Ceia do Senhor, acompanhe um sermão de Santo Antônio nos explicando o sentindo teológico e espiritual deste dia santo.

Sermões

06.04.2023 08:00:00 | 18 minutos de leitura

SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO: Ceia do Senhor

1. "Jesus levantou-se da mesa, depôs o seu manto, e, pegando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois derramou água numa bacia, começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido" (Jo 13,4-5).

EXÓRDIO - A CEIA DO SENHOR, COMPARADA À CEIA DE ABRAÃO

2. No Gênesis, lemos um fato análogo: "Trarei um pouco de água - disse Abraão -, para lavar os vossos pés e descansai debaixo desta árvore. Trarei um pedaço de pão para refazer as vossas forças" (Gn 18,4-5). O que Abraão fez aos três mensageiros, Cristo o fez aos santos apóstolos, mensageiros da verdade, que teriam pregado em todo o mundo a fé na Trindade; inclinou-se a seus pés como um servo e, assim inclinado, lavou seus pés. Ó inconcebível humildade! Ó indizível condescendência!

Aquele que nos céus é adorado pelos anjos, inclina-se aos pés dos pescadores; aquela cabeça que faz tremer os anjos inclina-se sob os pés dos pobres.

Por isso, Pedro se espantou e disse: "Jamais me lavarás os pés!" (Jo 13,8), isto é, nunca. Tomado de espanto, não pôde tolerar que um Deus se humilhasse a seus pés. Mas o Senhor replicou: "Se eu não os lavar, não terás parte comigo" (Jo 13,8). Comenta a Glosa: Quem não for lavado por meio do batismo e com a confissão e a penitência não tem parte com Jesus.

Depois que lhes lavou os pés (cf. Jo 13,12), os fez repousar sob a árvore que era ele próprio. "Sentei-me à sombra daquele a quem tanto desejara; e o seu fruto (isto é, seu corpo e seu sangue] é doce à minha boca" (Ct 2,3). Este é o pedaço de pão que pôs diante deles, com o qual fortaleceu seu coração para suportar as fadigas.

"Enquanto eles comiam, Jesus tomou o pão, benzeu-o e o partiu" (Mt 20,26). Partiu-o para indicar que "a fracção" de seu corpo não teria acontecido sem sua vontade. Primeiro o benzeu, porque, junto com o Pai e o Espírito Santo, encheu com a graça do poder divino a natureza que havia assumido. "Tomai e comei, este é o meu corpo" (Mt 26,26). Entenda assim: "Benzeu-o", subentendido dizendo: "Este é o meu corpo". Depois partiu-o, deu-o a eles e disse: "Comei!", e repetiu: "Este é o meu corpo"

3. Veremos o significado alegórico da ceia, das vestes e da toalha; como também da água, da bacia e dos pés dos discípulos.

A ceia é a glória do Pai; a deposição das vestes representa a aniquilação da majestade; a toalha indica a carne inocente; a água representa a efusão do sangue ou também a infusão da graça; a bacia, o coração dos discípulos, os pés, seus sentimentos.

Depois levantou-se da mesa, à qual se encontrava com Deus Pai: "Um homem fez uma grande ceia e convidou a muitos" (Le 14,16). Uma grande ceia, porque esplêndida e transbordante da glória da divina majestade, das riquezas da bem-aventurança angélica, das delícias da dupla glorificação. A esta ceia muitos são chamados, mas poucos vão, porque "infinito é o número dos insensatos" (Ecl 1,15), que trocam "a ceia da vida" pelo esterco das coisas terrenas. O porco dorme com mais gosto no barro do que num belo leito. Cristo levanta-se da felicidade de sua ceia, para levantar a estes da miséria de seu esterco.

"Depôs as suas vestes." Observa que Cristo depôs quatro vezes as suas vestes. Na ceia as depôs e depois as retomou; na coluna foi despido e revestido; durante os escárnios dos soldados foi também despojado e revestido; contudo não se lê que tenha sido despojado por Herodes; na cruz foi despido e não mais revestido.

A primeira deposição refere-se aos apóstolos, que ele abandonou, mas depois chamou a si após breve tempo. A segunda refere-se àqueles que foram acolhidos na Igreja no dia de Pentecostes e àqueles que foram acolhidos pouco a pouco. A terceira àqueles que serão acolhidos no fim dos tempos. A quarta refere-se à perversa mediocridade do nosso tempo, que jamais será acolhida. A segunda e a quarta espoliação são hoje comemoradas em algumas igrejas quando são desnudados os altares, que depois são aspergidos com água e vinho e açoitados com raminhos como se fossem flagelos. Depor as vestes significa aniquilar a si mesmo; depois de lavar, Jesus as retomou porque, executada a obediência, retornou ao Pai do qual havia partido.

Na Paixão do Bem-aventurado Sebastião lê-se que um rei tinha um anel de ouro, ornado com uma pedra preciosa. O anel, que lhe era muito caro, saiu-lhe do dedo e caiu numa cloaca, motivo que lhe causou grande desprazer. Não encontrando ninguém que estivesse em condições de recuperar o anel, depôs as vestes de sua real dig-nidade, vestido de saco desceu à cloaca, procurou longamente o anel e, finalmente, encontrou-o: tendo-o encontrado, cheio de alegria levou-o consigo para o palácio.

Aquele rei é figura do Filho de Deus; o anel representa o gênero humano; a pedra preciosa engastada no anel é a alma do homem. Este, pela alegria do paraíso terrestre, como que desprendendo-se do dedo de Deus, caiu na cloaca do inferno; O Filho de Deus teve grande desprazer com esta perda. Ele procurou entre os anjos e entre os homens alguém que recuperasse o anel, mas não encontrou ninguém, porque ninguém estava em condições de fazê-lo. Então, depôs as suas vestes, aniquilou a si mesmo, vestiu o saco de nossa miséria, procurou o anel por trinta e três anos, e no fim desceu aos infernos e ali encontrou Adão com toda a sua posteridade: cheio de alegria, tomou a todos consigo e os levou para a eterna felicidade.

4. "E tomando uma toalha, cingiu-se com ela." De fato, da carne puríssima da Virgem Maria tomou a toalha de nossa humanidade. E com isto concorda aquilo que é dito em
 Ezequiel: "E o Senhor falou ao homem que estava vestido de roupas de linho dizendo: Vai ao meio das rodas que estão debaixo dos querubins" (Ez 10,2). A roda, que volta ao mesmo ponto do qual partiu, é a natureza humana, à qual foi dito: Es pó e ao pó retornarás (cf. Gn 3,19). Diz-se "ao meio" em relação aos dois extremos: isto é, ao princípio e ao fim.

Observa que a natureza humana é caracterizada por três fatos: a impureza da conceição, a miséria da peregrinação, a incineração (destruição) da morte. O homem vestido de linho é Jesus Cristo, que, da Bem-aventurada Virgem recebeu uma veste de linho: ele não entrou no mundo iniciando por uma concepção impura, porque foi concebido pela Virgem puríssima por obra do Espírito Santo; não teve como fim a incineração humana, porque "não permitirás que teu Santo veja a corrupção" (SI 15,10); mas veio "ao meio" de nossa peregrinação, pobre, exilado e peregrino, e em todo o mundo teve somente uma morada.

Diz Neemias: "Não havia lugar por onde pudesse passar o cavalo em que eu ia montado" (Ne 2,14). Neemias, que se interpreta "consolação do Senhor", é figura de Cristo, nossa consolação no tempo da desolação. Com efeito, diz Isaías: "Foste fortaleza para o pobre, sustento para o necessitado na sua angústia, refúgio contra a tempestade, sombra no ardor do sol" (Is 25,4). Entre as tribulações das adversidades humanas, no turbilhão da sugestão diabólica, no ardor da luxúria e da vanglória, ele é a nossa consolação; seu jumento é a humanidade, sobre o qual montava a divindade.

Este jumento, sobre o qual colocou o ferido, isto é, o gênero humano, em todo o mundo não teve uma morada, porque "não teve onde reclinar a cabeça" (Mt 8,20; Lc 9,58); teve só a cruz, sobre a qual, "tendo inclinado a cabeça, entregou o espírito" (Jo 19,30).

Portanto, entrou ao meio das rodas que estavam sob os querubins, porque foi considerado pouco inferior aos anjos (cf. Hb 2,7; S1 8,6), quando tomou a toalha com a qual se cingiu. Naquela carne, de fato, cingiu-se de humildade, porque foi necessário que a humildade fosse tão grande no Redentor quanto foi grande a soberba no traidor.

5. "Depois, derramou água na bacia." Comenta a Glosa: Espalhou o sangue por terra para purificar as pegadas dos crentes, sujas pelos pecados terrenos.

Observa que a bacia é um vaso côncavo, sonoro e tem o lábio aberto. Assim era também o coração dos apóstolos, e oxalá fosse assim também o nosso coração: côncavo pela humildade, sonoro de devoção, com o lábio aberto para acusar a si mesmo.

Em latim, a bacia é chamada de pelris, porque nela se lavam os pés (pedes). No dia de Pentecostes, o Senhor enviou a água da graça para o coração dos apóstolos; e a envia cada dia para o coração dos fiéis, para que seus pés, isto é, seus afetos, sejam purificados de toda impureza. É isso que diz Jó: "Eu lavava meus pés no leite" (Jó 29,6): na gordura do leite é indicada a devoção da alma, com a qual Jó, isto é, "aquele que se dói" de seus pecados, purifica os afetos, os pensamentos de sua mente.

"E os enxugou com a toalha com a qual estava cingido", porque todo o sofrimento e a paixão do corpo do Senhor é a nossa purificação. Com esta toalha devemos limpar o suor de nossa fadiga, o sangue de nossa paixão, tomando em cada tribulação nossa o exemplo de sua paciência, para poder gozar com ele na sua glória.

No-lo conceda ele próprio, que é bendito nos séculos. Amém.

II - SERMÃO ALEGÓRICO

6. Assim diz Isaías: "O Senhor, Deus dos exércitos, preparará sobre este monte para todos os povos um banquete de carnes gordas, de vinhos, de carnes gordas e cheios de medula e de vinhos purificados da borra [refinados]" (Is 25,6). E Mateus da mesma reunião diz: "Enquanto eles comiam, Jesus tomou o pão e, depois de benzê-lo, partiu-o e o deu aos seus discípulos e disse: Este é o meu corpo. E tomando o cálice, deu graças e o deu a eles dizendo: Bebei dele todos: Este é o meu sangue (subentendido: para a confirmação) da nova aliança" (Mt 26,26-28).

Veja que Cristo realizou hoje quatro ações: lavou os pés dos apóstolos, deu-lhes o seu corpo e o seu sangue, fez um longo e precioso discurso, rezou ao Pai por eles e por todos aqueles que teriam crido nele. Este foi o suntuoso banquete.

Ele é exatamente o "Senhor dos exércitos", isto é, dos anjos, dos quais naquela noite disse a Pedro: "Pensas que não posso pedir a meu Pai e ele me enviaria, neste instante, mais de doze legiões de anjos»» (Mt 26,53). Como se dissesse: Não necessito da ajuda de doze apóstolos, eu que posso ter doze legiões de anjos, quer dizer, setenta e dois mil anjos.

"Sobre este monte", isto é, em Jerusalém, naquele cenáculo espaçoso e bem mobiliado (cf. Mc 14,15), no qual os apóstolos receberam também o Espírito Santo no dia de Pentecostes, "ele fez hoje para todos os povos" que criam nele "um banquete de carnes gordas". O banquete deste dia é verdadeiramente um banquete de carnes gordas, porque ali era servido o vitelo gordo que o Pai sacrificou para a reconciliação do gênero humano. De fato, lemos em Lucas: "Trazei um bezerro bem gordo e matai-o. Vamos comer e nos alegrar porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado. E começaram todos a banquetear-se" (Lc 15,23-24).

Comenta a Glosa: Pregai o nascimento de Cristo, inculcai a lembrança de sua morte, a fim de que o homem creia no seu coração, imitando aquele que foi morto, e com a boca receba o sacramento da paixão para a própria purificação.

É isso que faz hoje a Igreja universal, para a qual Cristo preparou sobre o Monte Sião um banquete esplêndido e suntuoso, de uma riqueza dupla, interior e exterior, e abundante; deu seu verdadeiro corpo, rico de todo o poder espiritual, engordado com a caridade interna e externa, e mandou que fosse dado também a todos aqueles que haveriam de crer nele. Por isso, deve-se crer firmemente confia o com a boca que aquele corpo que a Virgem deu à luz, que foi pregado à cruz, que jazeu no sepulcro, que ressuscitou ao terceiro dia, que subiu à direita do Pai, hoje ele realmente o deu aos apóstolos, e a Igreja cada dia o "confecciona" e o distribui a seus fiéis. Realmente, ao som das palavras "Este é o meu corpo", o pão se transforma, transubstancia-se, torna-se o corpo de Cristo, que confere a unção de uma dupla riqueza àquele que o recebe dignamente, porque atenua as tentações e suscita a devoção. Por isso é dito: Terra donde escorrem leite e mel (cf. Dt 31,20), porque adoça as amarguras e incrementa a devoção.

Infeliz daquele que ousa entrar para este banquete sem a veste nupcial (cf. Mt 22,11) da caridade, ou da penitência, porque quem se alimentar dele indignamente come a sua condenação (cf. 1Cor 11,29). Que relação pode haver entre a luz e as trevas? (cf. 2Cor 6,14-15), entre o traidor Judas e o Salvador? "A mão daquele que me trairá está comigo à mesa" (Lc 22,21). Está escrito no Éxodo: «Todo animal [portanto, também o homem que se tornou semelhante ao animal] que tocar o monte [isto é, o corpo de Cristo] será apedrejado" (Hb 12,20), isto é, será condenado (cf. Ex 19,12-13).

7. "Um banquete de vinhos sem borra", isto é, purificados de toda impureza e refina-dos. Diz também Moisés no seu cântico: "E bebam o mais puro sangue da uva" (Dt 32,14). A uva é a humanidade de Cristo que, espremida no lagar da cruz, espalhou por toda a parte o sangue que hoje deu de beber aos apóstolos: Este é o meu sangue, que por vós e por muitos será derramado em remissão dos pecados (cf. Mt 26,28).

Foi, pois, necessário que aquele sangue fosse como um vinho refinado e puríssimo, para ser derramado em remissão de muitos pecados!

Ó caridade do Dileto! Ó amor do esposo por sua esposa, a Igreja! O sangue que no dia seguinte deveria derramar por ela, por mão dos infiéis, ofereceu-o hoje ele próprio com suas mãos santíssimas. E por isso ela exclama no Cântico dos Cânticos: «O meu amado é para mim como um ramalhete de mirra, colocado sobre meus seios. O meu amado é como um cacho de uvas, [colhido] nas vinhas de Engadi" (Ct 1,12-13).

Entra a esposa, a Igreja, ou seja, a alma, no auge dos sofrimentos e das dores de seu esposo, e recolhe piamente e une e amarra com os laços do amor ora os insultos, Ora os tapas e as cusparadas, aqui os escárnios e os flagelos, cá e lá a cruz, os pregos e a lança; de tudo faz para si um ramalhete de mirra, um ramalhete de dores e de amarguras, e o coloca entre os seus seios, onde está o coração, onde está o amor. O Dileto que amanha será para sua esposa o ramalhete de mirra, é hoje para ela o cacho de uvas. "Meu cálice que inebria", o cacho de uvas, "quanto é excelente!" (SI 22,5): eis a uva escolhidíssima e seu puríssimo sangue.

E onde se encontra? E de onde se tira? "Das vinhas de Engadi" », que se interpreta "fonte do cabrito", animal que expele um mau odor. As vinhas de Engadi representam as feridas do nosso Dileto, nas quais está a fonte viva, a água que lava qualquer imundície e elimina qualquer mau odor. Nesta fonte o ladrão lavou seus delitos quando confessou e implorou: "Lembra-te de mim quando estiveres no teu reino" (Lc 23,42). Dessa fonte diz Zacarias: "Naquele dia [isto é, amanhã) haverá para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém uma fonte aberta para se lavarem as manchas do pecador e da mulher impura" (Zc 13,1). Eis a fonte aberta e E oferecida a todos. Vinde, pois, e tirai, e lavai as manchas escondidas e as manifestas, indicadas exatamente no ciclo mensal.

8. Eis que agora o nosso Dileto, o cacho de uvas, o ramalhete de mirra, celebrado aquele rico e refinado banquete, depois de ter cantado o hino, sai com seus discípulos para o Monte das Oliveiras (cf. Mt 26,38-39); passa sem dormir toda esta noite, preocupado em realizar a obra de nossa salvação; afasta-se dos apóstolos, começa a ficar triste até a morte, dobra os joelhos diante do Pai, pede que, se for possível, passe dele esta hora, mas submete sua vontade à vontade do Pai; tomado pela agonia, emana suor de sangue.

Depois disso tudo, é traído por um discípulo com um beijo, é amarrado e levado como um malfeitor; seu rosto é velado, depois coberto de cusparadas, sua barba é arrancada; é batido na cabeça com a cana e esbofeteado; é flagelado na coluna, coroado de espinhos, condenado à morte; é-lhe posto sobre os ombros o madeiro da cruz, dirige-se ao Calvário, é despojado das vestes, é crucificado nu entre os ladrões, é dessedentado com fel e vinagre, é insultado e blasfemado pelos passantes. Numa palavra: A vida morre pelos mortos.

Ó olhos de nosso Dileto fechados na morte! Ó rosto, no qual os anjos desejam fixar o olhar (cf. 1Pd 1,12), inclinado e exangue! Ó lábios, favo de mel que destila palavras de vida eterna, tornados lívidos! O cabeça, tremenda aos anjos, que pende reclinada! Aquelas mãos, ao cujo toque desapareceu a lepra, foi restituída a vista perdida, fugiu o demônio, multiplicou-se o pão: aquelas mãos, ai de mim!, estão transpassadas pelos pregos, estão banhadas de sangue! (cf. relato da paixão dos quatro evangelistas).

Caríssimos irmãos, recolhamos todos esses sofrimentos e façamos deles um ramalhete de mirra e ponhamo-lo em nosso peito, isto é, levemo-lo no coração, sobretudo nesta noite e amanhã, para poder ressurgir com ele no terceiro dia.

No-lo conceda aquele que é bendito nos séculos. Amém.

III - SERMÃO ANAGÓGICO (MÍSTICO)

9. "O Senhor dos exércitos" etc. Vejamos o significado místico destas cinco coisas: O monte, o banquete, a gordura, a medula e a uva escolhida.

O monte é a pátria celeste, da qual diz Isaías: "Vós entoareis um cântico, como na noite da santa solenidade; e a alegria do vosso coração será como a do que vai caminhando ao som da flauta para dirigir-se ao monte do Senhor, do forte de Israel" (Is 30,29). Presta atenção a três coisas: o cântico, a alegria e a flauta. O cântico é o louvor feito com a voz; louvor que, como diz Cassiodoro, será proclamado na pátria: «Pelos séculos dos séculos te louvarão" (SI 83,5). Na alegria é indicado o júbilo do coração, na flauta, a melodia concorde da carne e do espírito, que temos em grau perfeito na ressurreição final: com ela subiremos jubilando e cantando ao monte da pátria celeste, ao Forte, que é Jesus Cristo, que, da mão do poderoso libertou Israel, isto é, seus fiéis, para os quais neste monte celeste preparou um banquete.

E diz no Evangelho de Lucas: "Eu preparo para vós um reino, como meu Pai o preparou para mim, para que comais e bebais à minha mesa no Reino dos Céus" (Lc 22,29-30). A mesa preparada para todos os santos para que gozem dela é a glória da vida celeste na qual haverá três banquetes: da suntuosidade (pinguedo), da delicadeza (medullae) e do requinte (wae defecatae). Nesses três banquetes é indicada a tríplice alegria dos bem-aventurados.

Na suntuosidade do banquete é indicada a alegria da qual os santos fruirão na visão de toda a Trindade; na sua delicadeza, aquela que terão pela própria felicidade e pelo esplendor interior da consciência. Por estas duas rezava Davi, dizendo: "Como de banha e de gordura seja saciada a minha alma", isto é, daquela dupla alegria, "e então, com lábios de júbilo te louvará a minha boca" (SI 62,6). No vinho purificado da borra é representada a alegria de toda a Igreja triunfante, que, então, será verdadeiramente purificada, porque este corpo mortal será revestido de imortalidade e este corpo corruptível será revestido de incorruptibilidade (cf. 1Cor 15,53).

Digne-se concedê-la aquele que é bendito nos séculos. Amém.

ACOMPANHE OUTRAS REFLEXÕES SOBRE A QUINTA FEIRA SANTA ABAIXO:

Fonte: Sermões | Santo Antônio; tradução de Frei Ary E. Pintarelli, OFM: Vozes, 2019
Fotógrafo: Frei Roberto Alves, OFM
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