Terceiro dia de Retiro reflete a graça do olhar contemplativo que nos permite enxergar a Eucaristia e toda a criação com um olhar diferente
20.07.2022 20:45:45 | 3 minutos de leitura

Francisco entendeu que a Eucaristia é uma forma de Deus descer sempre mais uma vez no meio de nós. Foi a uma das maneiras que Jesus escolheu pra se aproximar de nós. Aquela grandeza que Frei Inácio refletia conosco no dia de ontem agora é percebida na nossa realidade. Diariamente. No caminho de percepção dessa grandeza, faz-se necessária a mudança da natureza do olhar. É aquela experiência que Francisco fez com o leproso. O que mudou não foi a realidade daquele pobre, ele continua sendo o mesmo leproso que Francisco ignorava. O que mudou foi o olhar de Francisco. Deus tem o poder de nos mostrar aquilo que ultrapassa o que já vimos. É necessário, então, nesse itinerário, fazer a distinção entre o olhar espiritual e o olhar carnal.
A distinção entre esses olhares reside na capacidade de enxergar a realidade para além das nossas limitações que podem nos levar a enxergar o mundo de maneira pequena. O olhar espiritual é aquele olhar da fé que nos permite enxergar além das aparências. Mais além. É preciso, então, contemplar com os olhos espirituais. Quem contempla com os olhos espirituais é capaz de ver toda a realidade como dádiva de Deus. Essa dimensão é fundamental para a vida fraterna porque aquele que é irmão enxerga o outro, contempla o irmão. Essa realidade, pois, nos faz enxergar o outro para além de suas limitações, enxerga o outro como dom. O olhar de Francisco para a fraternidade é um olhar genuinamente contemplativo porque deposita a razão de ser da fraternidade na compreensão de que “o Senhor lhe deu irmãos” reconhecendo, dessa forma, que a fraternidade é dom de Deus.
Quando mudamos o nosso olhar para o outro é porque algo mudou em nós e isso também é fruto da graça de Deus.O nosso mundo está, em algum sentido, sem foco e o olhar contemplativo favorece o retorno ao foco. Nesse sentido, como a Eucaristia, somos convocados a ser sinal de Deus nesse mundo. A Palavra de Deus se torna vida a partir de nosso testemunho. Uma tarefa urgente é fazer com que essa realidade seja vivida por toda Igreja. Essa é a graça do grande milagre de Jesus que reúne uma multidão para sentar-se no mesmo ambiente, partilhar o alimento e a vida.
Frei Inácio Dellazari nos recordou a letra de uma bonita canção do cancioneiro católico latino-americano que canta “Dizei-me como ser pão, como ser alimento, que sacia por dentro, que trás a paz, que cura a injustiça, que cria liberdade”. Esse canto nos ajuda a compreender que também nós devemos ser pão para os nossos irmãos, para a Igreja do Senhor que sofre, que passa fome. Isso é Boa Nova de Deus para nós que estamos num país marcado pela desigualdade que leva a mais de 33 milhões de famílias para uma situação de miséria, que mata a vida de tantas minorias e de defensores da vida. Que essa reflexão nos ajude a perguntar ao Senhor como ser pão nessa realidade.