Um Papa chamado Francisco
Nas comemorações dos 10 anos do pontificado do Papa Francisco, Fr. Walter Schreiber e Frei Roberto Alves destacam as 10 atitudes franciscanas do Santo Padre
13.03.2023 09:00:00 | 19 minutos de leitura

Há 10 anos, a fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina trazia novos ventos à Igreja. Na praça de São Pedro uma multidão acompanhava com expectativa o anúncio do novo Papa. Entre orações e palpites o povo queria saber de onde vinha o novo sucessor de Pedro. Com a proclamação “Annuntio vobis gaudium magnum; Habemus Papam”, a resposta para todo o mundo veio. Com um jeito simples, latino-americano de ser, se curvando para pedir orações aos fiéis, ele se autointitula um papa que veio do fim do mundo. Sem esquecer um detalhe que encheu ainda mais o nosso coração de alegria, o nome Francisco.
Para celebrar esses 10 anos de pontificado, separamos, neste artigo, dez atitudes do Papa Francisco que nos faz lembrar São Francisco de Assis e nos interpela como franciscanos a assumir, no mundo de hoje, de forma profética e corajosa nossa vocação.
Escolha do nome Francisco: O primeiro ponto deste artigo não podia ser outro a não ser o próprio nome escolhido, que já diz muito sobre a missão do pontífice. A alcunha dos papas diz muito sobre a linha de condução que eles adotarão para a Igreja. Assim, Bergoglio, que sempre sonhou como uma Igreja pobre para os pobres e como novo ardor missionário, escolheu ser chamado com o nome do santo que ficou conhecido com a sua profunda opção pelos pequenos.
Em entrevista o Papa falou: Ele [Dom Cláudio Cardeal Hummes - logo após a eleição] abraçou-me, beijou-me e disse-me: ‘Não te esqueças dos pobres!’. E essa palavra entrou aqui: os pobres, os pobres. Depois, imediatamente, em relação aos pobres, pensei em Francisco de Assis. Depois, pensei nas guerras (....) E Francisco é o homem da paz. E, assim, veio o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, ele é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e protege a criação (...) Ele é o homem que nos dá esse espírito de paz, o homem pobre”
Esse mesmo motivo que levou o Cardeal franciscano a se dirigir ao recém-eleito pedindo para não esquecer dos pobres, estes que estiveram presentes no coração de São Francisco, que estampou em seu testamento: “E o Senhor me conduziu entre eles e fiz misericórdia com eles.” (Testamento 2).
Seguindo a inspiração do poverello de Assis, Francisco deixou claro em suas reflexões a atenção devida aos mais necessitados, criando, por exemplo, o Dia mundial dos pobres, ressaltando em seus documentos o lugar deles na Igreja: “No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo «Se fez pobre» (2 Cor 8,9).[1] Além desta característica forte, do Homem com o coração livre (Significado do nome Francisco em francês= francês livre, homem livre), Franscisco deixa estampado na vida os gestos e o jeito franciscano de ser, que falaremos mais ao decorrer deste texto.
Eclesiologia: Bem conhecemos a reverência que o Pai Seráfico tinha para com a Igreja, deixando bem claro no seu testamento: “E o Senhor me deu e ainda me dá tanta fé nas igrejas que com simplicidade orava e dizia: ‘Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro, e vos bendizemos porque por vossa Santa Cruz remistes o mundo’.” [2]
A adesão do santo de Assis a Igreja estava intimamente ligada à sua adesão a Jesus Cristo, que se expressa em sua palavra sagrada e na Eucaristia. A vida expressa nos Evangelhos, ouvido nos templos religiosos e por vezes explicado pelos padres, fizeram com que Francisco tomasse como forma de vida a própria vida de Jesus e, a partir de uma vida eclesial, assumiu um movimento de constante saída que o comprometia com a fé professada.
Assim, a partir do espírito de São Francisco e “na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de «saída», que Deus quer provocar nos crentes. De Abraão que aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12,1-3). De Moisés ouviu a chamada de Deus: «Vai; Eu te envio» (Ex 3,10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3,17). De Jeremias que ouviu do Senhor: «Irás aonde Eu te enviar» (Jr 1,7). O Papa Francisco apresenta uma Igreja em constante movimento, que bebe da fonte do Evangelho: Naquele «ide» de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova «saída» missionária.” [3]
Sobre os sonhos eclesiológicos do Papa Francisco, ele nos diz: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação.” [4]
Gostaríamos de lembrar ainda, o grande impulso ao ministério dos leigos na Igreja olhando-os não como segunda classe mas como participantes atuantes na caminhada eclesial, a reforma da Cúria Romana com a Constituição Apostólica Praedicate evangelium. Promulgada em 2022 dando uma estrutura ainda mais de serviço e missionária e ainda o processo Sinodal com a participação ativa de todos os homens e mulheres nas decisões. Olhando para estas iniciativas, não tem como não olhar para São Francisco de Assis que sempre sonhou com uma fraternidade de irmãos, onde o Guardião seja como uma mãe e cada irmão nutra um a outro com carinho e misericórdia.
Relação com a Casa Comum: É difícil falar de São Francisco sem falar de seu profundo Amor a Criação. O santo de Assis compôs um belo canto mostrando sua comunhão com todo o universo criado por Deus: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a mãe Terra, que nos sustenta e governa, e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas.” [5]
Este espírito de Francisco fez com que o Papa também tomasse a iniciativa de promover dentro da Igreja maiores reflexões sobre este tema. Lembramos aqui a Carta Encíclica Lauda sí, onde ele ressalta: “Louvado sejas, meu Senhor, cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com que partilhamos a existência, ora uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços.” [6] Ainda é iniciativa sua o dia de Oração pelo Cuidado da Criação, que se celebra todo o dia 1º de setembro, sem falar o Sínodo da Amazônia, que ocorreu em 2019.
Ao assumir a sua familiaridade com toda a criação, o Cântico de São Francisco se apresenta de forma resumida nas palavras do Papa ao convidar todos a se sentirem parte da “Mesma Casa Comum”.
Fraternidade Universal: O sonho da Fraternidade universal estava presente no coração de Francisco. Ele quis, desde o início, formar uma grande família a partir do reconhecimento que todos somos filhos do mesmo Pai.
Para falar sobre este tema, o Papa Francisco recorreu aos escritos franciscanos e destacou: “Dos conselhos que ele [São Francisco] oferecia, quero destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço(...)” [7] Esse Santo do amor fraterno, da simplicidade e da alegria, que me inspirou a escrever a Encíclica Laudato Si’, volta a inspirar-me para dedicar esta nova Encíclica à fraternidade e à amizade social. Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram de sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados doentes, descartados, enfim, dos últimos.” [8]
Desejo de Paz: Do Cenário de constantes guerras no tempo de Francisco de Assis ao cenário de indiferença dos tempos atuais, ao escolher o nome do Santo que ficou também conhecido por seu grande esforço pela Paz, o Papa Francisco ressaltava o desejo profundo de reconciliação que existia no poverello de Assis.
Sobre a Paz, São Francisco instruía seus irmãos: “Como saudação, revelou-me o Senhor que disséssemos: ‘O Senhor te dê a paz.” [9] “Aconselho, admoesto e exorto a meus irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo que, ao irem pelo mundo, não discutam, nem porfiem com palavras (cf. 2Tm 2,14), nem façam juízo de outrem, mas sejam mansos, pacíficos, modestos, afáveis e humildes, tratando a todos honestamente, como convêm” [10] e ainda: “’Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus’ (Mt 5,9). São verdadeiramente pacíficos os que, no meio de tudo quanto padecem neste mundo, se conservam em paz, interior e exteriormente, por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.” [11]
Nesta mesma busca de uma Paz comprometida e que não quer dizer apenas ausência de guerra, o Papa Francisco ressalta em sua encíclica verde: “(...), ninguém pode amadurecer numa sobriedade feliz, se não estiver em paz consigo mesmo. E parte de uma adequada compreensão da espiritualidade consiste em alargar a nossa compreensão da paz, que é muito mais do que ausência de guerra. A paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado com a ecologia e com o bem comum, porque, autenticamente vivida, reflete-se num equilibrado estilo de vida aliada com a capacidade de admiração que leva à profundidade da vida.” [12]
Diálogo inter-religioso: Em sua última viagem apostólica, aos países africanos, o Papa Francisco se colocou como um mensageiro da Paz, do diálogo e de encontros com outras religiões, destacando o desejo de promoção de percursos de reconciliação das diferenças, a fim de serem dados passos comuns no caminho da paz. Olhando o santo Padre e as suas inspirações em meio às suas viagens, fazendo questão de se encontrar com membros de outras culturas e religiões, somos lembrados do desejoso Francisco de Assis, quem embalado pelo Evangelho de Cristo, anseia pregar a Paz.
O conhecido encontro com o Sultão, fez com que São Francisco direcionasse um trecho de sua regra àqueles que desejam ir no meio dos sarracenos: “E os irmãos que partirem [ao encontro dos sarracenos e outros infiéis] poderão proceder de duas maneiras espiritualmente com os infiéis: O primeiro modo consiste em absterem-se de rixas e disputas, submetendo-se ‘a todos os homens por causa do Senhor’ (1Pd 2,13) e confessando serem cristãos. O outro modo é anunciarem a palavra de Deus quando o julgarem agradável ao Senhor: que creiam no Deus todo-poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, Criador de todas as coisas; no Filho, Redentor e Salvador(...)” [13]
Em nosso tempo, O Papa Francisco se destaca como um dos mais proeminentes líderes mundiais, na construção de uma sociedade onde imperam o diálogo, a compreensão e a tolerância, entre as várias formas de religião, entre os povos e culturas. Em um encontro inter-religioso em Abu Dhabi, o Papa fez um chamado à fraternidade entre religiões, a cuidar da família humana e a sustentar uma relação inter-religiosa baseada na educação e na justiça, na qual a oração tenha um papel essencial. E lembrando às religiões que também são responsáveis pelo desenvolvimento integral, pediu pelo fim da guerra, a exploração e a derrubada de muros.
Em sua encíclica Fratelli Tutti, o Papa ainda lembrou que “As várias religiões, a partir do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade. O diálogo entre pessoas de diferentes religiões não se faz apenas por diplomacia, amabilidade ou tolerância. Como ensinaram os bispos da Índia, ‘o objetivo do diálogo é estabelecer amizade, paz, harmonia e partilhar valores e experiências morais e espirituais em espírito de verdade e amor’.” [14] e ainda: “A maior parte dos habitantes do planeta declara-se crente e isso deveria levas as religiões a estabelecer diálogo entre si, visando o cuidado da natureza, a defesa dos pobres, a construção de uma trama de respeito e fraternidade”. [15]
Simplicidade: Desde os primeiros dias de pontificado, Francisco surpreendeu com atitudes não comuns aos Papa anteriores. O sapato, a cruz peitoral, a proximidade com as crianças, etc. Logo lembramos das palavras de São Francisco em suas Admoestações: “’Bem-aventurado o servo’ (Mt 24,46) que não se envaidece com o bem que o Senhor diz e opera por meio dele mais do que com o que o Senhor diz e opera por meio de outrem. Peca o homem que exige do seu semelhante mais do que ele mesmo daria de si ao Senhor seu Deus.” [16] Naquele papa que se curva pedindo a oração de todos, podemos nos deparar com a concretude do termo caro para os franciscanos: minoridade.
Essa ideia de simplicidade ficou expressa também em muitas palavras do sumo pontífice, como por exemplo em sua encíclica sobre a santidade: “Disse Ele: ‘Sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós’ (Mt 11,29). Se vivemos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas, quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e evitemos gastar energias em lamentações inúteis. Para Santa Teresa de Lisieux, ‘a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas’.” [17]
Missionariedade: A missão é parte integrante do Carisma de São Francisco. Ele mesmo pediu para que os frades vivessem tendo o mundo como claustro. O relato de seu biógrafo Tomás de Celano trata bem disso: “(...) separou-os dois a dois pelas quatro partes do mundo e lhes disse: ‘Ide, caríssimos, dois a dois, por todas as partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a penitência para a remissão dos pecados; sede pacientes na tribulação, confiando que o Senhor vai cumprir o que propôs e prometeu. Aos que vos fizeram perguntas respondei com humildade, aos que vos perseguirem abençoai, aos que os injuriarem e caluniarem agradecei, porque através disso tudo nos está sendo preparado um reino eterno. Recebendo o mandato da santa obediência com gáudio e muita alegria, eles se prostraram suplicantes diante de são Francisco. Ele os abraçava e dizia com ternura a cada um: Poe teus cuidados no Senhor e ele cuidará de ti’”. [18]
Como um dos primeiros atos de seu pontificado, o Papa Francisco lançou a Exortação apostólica que ficou conhecida como o programa de seu serviço como sucessor de Pedro. Entre as linhas da Evangelli Gaudium o Papa trouxe temas como: “A transformação missionária da Igreja”; “a crise do compromisso comunitário”; “O anúncio do Evangelho”; “A dimensão social da evangelização” e “Evangelizadores com espírito”. Gostaríamos de frisar um dos trechos fortes deste documento: “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: «O amor de Cristo nos absorve completamente» (2Cor 5,14); «ai de mim, se eu não evangelizar!» (1Cor 9,16).” [19]
Com o espírito de Oração e Devoção: O itinerário Franciscano é composto também pela oração e devoção. Estas duas atitudes apresentam o quanto que em São Francisco de Assis era possível perceber uma oração acompanhada de uma dedicação e compromisso profundo com aquilo que o santo pedia ao Senhor. Sua oração era viva e real e podemos encontrá-las espalhadas por vários de seus escritos e nos relatos dos textos hagiográficos e históricos. Sobre a importância de manter este Espírito de Oração e Devoção, Francisco escreve um bilhete a Antônio lembrando o imenso compromisso dos estudos teológicos com a fé.
Durantes estes 10 anos de Pontificado, o Papa Francisco também buscou definir, em várias ocasiões, a oração como um respiro da vida, como o nosso coração, o remédio da fé etc. Mas, em uma de suas catequeses, no dia 9 de junho de 2021, ao lembrar a imagem da vida monástica e o Evangelho do encontro de Jesus com Marta e Maria, ele lembrou que “As mãos juntas do monge carregam os calos daqueles que empunham pás e enxadas” e ainda que “uma oração que está alienada da vida não é saudável. A oração que nos afasta da realidade do viver torna-se espiritualismo, ou pior, ritualismo.”
O homem feito oração, Francisco de Assis, que dedicava longos tempos as meditações, retiros, como fonte essencial para sua missão, na busca de ouvir de Deus os passos a serem dados, se encontra na figura de um Papa que muitas vezes em meios aos momentos difíceis e alegres da humanidade consegue olhar ao seu redor e dirigir uma prece ao Pai, mantendo firme o seu Espírito de Oração e devoção. A oração fiel ao Pai faz com que estes dois Franciscos se encontrem em meio a vida devota e dedicada com toda a humanidade.
Observância do Evangelho: O Evangelho foi um tema caro para a vida de Francisco. Ele assim mesmo resumiu como deveria ser a vida e Regra dos Frades Menores. Foram os textos sagrados que inspirou sua forma de vida, “E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho.” [20] Assim também ele desejou que todos os seus irmãos pudessem carregá-lo no coração: “Ouvi, Senhores filhos e irmãos meus, e escutai com vossos ouvidos minhas palavras (At 2,14). Inclinai o ouvido (Is 55,3) de vosso coração e obedecei à voz do Filho de Deus. Observai os seus mandamentos com toda a vossa oração e segui os seus conselhos de toda vossa alma. ‘Louvai-o, porque é bom’ (Sl 135,1), e ‘exaltai-o pelas vossas obras’ (Tb 13,4). Pois para isto Ele vos mandou pelo mundo, para dardes testemunho de sua voz, por vossas palavras e vossas obras, e fazerdes saber a todos que ninguém é todo-poderoso senão Ele (Tb 13,4). Perseverai na disciplina e santa obediência (Hb 12,7) e cumpri o que lhe prometestes com generoso e firme propósito.” [21]
Francisco, traduzindo em vida as palavras santas, ficou conhecido como o Homo totus Evangelicus. A pedra de toque do Pai Seráfico era a própria vida de Jesus e, a partir do que ouvia e acompanhava nos textos bíblicos, assumia para sua vida com fidelidade e com toda a força do coração. Olhar para São Francisco e sua reverência à Palavra de Deus, somos convidados a, diante da nossa realidade, uma grande necessidade de uma volta às origens, uma volta a mensagem central de Cristo. Este grito de retorno pode ser ouvido constantemente das janelas, corredores e salões do Vaticano, ou por uma Viagem apostólica internacional. Com o coração cheio, logo podemos ler escritos do Papa Francisco que parece ser São Francisco que se dirige a cada um: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.” [22]
A vida do Evangelho, assumida e observada por São Francisco, apresenta a nós a necessidade de também hoje encarnar a Palavra de Deus em nossa realidade fazendo com que ela frutifique, sobre isso o Papa Francisco ressalta que “é essencial a evangelização. Por um lado, leva-nos a valorizar a história da Igreja como história de salvação, a recordar os nossos Santos que inculturaram o Evangelho na vida dos nossos povos, a recolher a rica tradição bimilenária da Igreja, sem pretender elaborar um pensamento desligado deste tesouro, como se quiséssemos inventar o Evangelho. Por outro lado, este critério impele-nos a pôr em prática a Palavra, a realizar obras de justiça e caridade nas quais se torne fecunda esta mesma Palavra. Não pôr em prática, não levar à realidade a Palavra é construir sobre a areia, permanecer na pura ideia e degenerar em intimismos e gnosticismos que não dão fruto, que esterilizam o seu dinamismo.” [23]
[1] Cf. Evangelii Gaudium n. 197.
[2] Cf. Testamento 4-5.
[3] Cf. Evangelii Gaudium n. 20.
[4] Cf. EG n. 27.
[5] Cf. Cântico do Irmão Sol, n. 9.
[6] Cf. Laudato Si, n. 1.
[7] Cf. Fratelli Tutti n. 1.
[8] Cf. Fratelli Tutti, n. 2.
[9] Cf. Testamento 23.
[10] Cf. Regra bulada 3,10-11.
[11] Cf. Admoestações 15.
[12] Cf. Laudato Si’ n. 225.
[13] Cf. Regra não bulada, n. 16.
[14] Cf. Fratelli Tutti n. 271.
[15] Cf. Fratelli Tutti, n. 198.
[16] Cf. Admoestações 17.
[17] Cf. Gaudete et Exsultate, n. 72.
[18] Cf. 1Celano 29, cap. 12.
[19] Cf. Evangelii Gaudium, n. 9.
[20] Cf. Testamento 14.
[21] Cf. Carta a toda a Ordem dos Frades Menores 5-10.
[22] Cf. Evangelii Gaudium n. 1.
[23] Cf.. Evangelii Gaudium n. 233.